29 de dezembro de 2012

Visões de um Futuro Imperfeito Parte V

Civilization by Justice on Grooveshark
Voltemos às obsessões, os fins...
Mais um fim de mundo e nada. Enquanto nós, entusiastas do fim, ficamos sem respostas esperando o segundo sol chegar. As questões suscitadas com a possibilidade do fim são as que mais interessam. Gosto de me pegar pensando nas possibilidades de arranjo que a humanidade encontraria ao se deparar com a pulverização de suas estruturas. 
Todos que se assustam com a possibilidade de chegarmos ao final do que entendemos por mundo devem se confortar pois o universo nem notará o calar de nossas picuinhas e aspirações. As estrelas continuaram explodindo e o universo expandindo até a hora derradeira.
E o cinema com isso? Vamos a mais uma seleção de filmes que tratem bem ou mal o assunto.

PS: Depois de muito ponderar conclui que a melhor obra sobre o fim do mundo que já tomei contato de longe é Neon Genesis Evangelion. Na real, é uma das melhores obras que já tomei contato, ponto. Merece um post, ou vários.

Pânico no Ano Zero - Harry Baldwin um pai de família acima de qualquer suspeita se vê obrigado a agir quando sua Los Angeles natal vai pelos ares depois de uma explosão nuclear. Essa pérola gerida no ápice da neura nuclear apocalíptica serve para reafirmar o vigor da truculência do selfmademan estadunidense. Mas sejamos francos: Harry, o pai da família Baldwin, é um dos poucos personagens que vi que rapidamente  entende toda a extensão do drama que está a enfrentar e, rapidamente, toma as rédeas da situação. Assista!!! Clique aqui.

4:44, O Fim do Mundo - Mesmo no fim do mundo Ferrara não abandona os elementos que lhe são mais caros: Nova York e o catolicismo. E quem disse que o fim de tudo não pode ser tedioso. Uma casal coma vida ganha e com os conflitos corriqueiros dos países ricos esperam pelo fim de tudo, e conversam e é isso. Enfim, nem sempre o Ferrara acerta. Veja o trailer aqui.

Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo - Steve Carrel continua fazendo o mesmo papel de sempre, Keira Knightley continua blá. E você, o que faria se os dias estivessem contado e anunciados na tv em rede nacional? O mise en scene composto pela diretora Lorene Scafaria foi muito acertado e agridoce ao focalizar as reações individuais e sociais à notícia do fim do mundo. E, enquanto as civilizações implodem Dodge e Penny buscam por alguma redenção. Sem as amarras que as consequências futuras trazem todos se entregariam às vontades e largariam os incômodos do dia a dia: empregos enfadonhos, relacionamentos infelizes, comportamentos comedidos. De certa forma seria o paraíso na terra. E você? Com quem iria querer dividir o paraíso? Veja o trailer aqui.

O Quinteto - Um fim de mundo branco, gelado, silencioso, desesperançoso e bêbado. A opção de Robert Altman por embaçar as laterais da imagem tentando dar um aspecto de gelado foi um experimentalismo bobo que não acrescentou a trama. Os cadáveres abundam e servem de ração a superpopulação de cachorros vadios que vagam nas poucas cidades restantes. Jogar o quinteto é o que resta a um povo que perdeu as esperanças pois a morte virá de qualquer lado. Veja o trailer aqui.

Mad Max - Fruto de um movimento cinematográfico cheio de grandes obras, a película de George Miller é a grande representante do cinema australiano (que dizer, depois do Crocodilo Dundee, claro). Num fim de mundo chamado Austrália nasce a lenda de mais um cavaleiro solitário. Max terá de ser talhado na tragédia para sobreviver aos tempos secos e impiedosos que virão. Max é um trabalhador competente, um operário que irá explodir quando tiver a chance. Sem histrionismos, Max pode ser muito cruel quando necessário ou na medida em que o mundo lhe empurrar para isso. Max é e será uma mistura de messias com Jim Stark. Um rebelde com a causa da sobrevivência e apreço pela proteção dos mais fracos. Começa aqui sua via dolorosa, sua terra santa serão infinitas estradas e desertos ao cheiro de gasolina queimada, seu evangelho será pregado sob motor e rodas de borracha. Esse filme foi o prenuncio do fim do mundo podre automotivo de combustível fóssil. Um filme imperdível. Veja esse clássico aqui.

Cherry 2000 - Esse é o tipo de filme que renova minha fé em Hollywood me fazendo lembrar com nostalgia de um tempo em que os cenários que o cinema apresentava tendiam ao infinito. Além da condescendência  com a estética oitentista, temos espetaculosas cenas de ação embalando atuações mínimas e uma trama que só vislumbra temas relevantes. Tudo isso no pacote clássico da indústria do cinema estadunidense: uma grande aventura e a possibilidade de romance com uma gata ao final da fita. Num futuro destruido nas mega cidades que restaram as relações homem-mulher ficaram tão estragadas que é muito mais tranquilo ter uma boa vida com uma androide programada para te agradar. Quando a robô pertencente a Sam estraga por muito uso ele parte para uma parte esquecida do mundo para achar uma substituta conduzido pela linda Melanie Griffith novinha. Veja já esse filme aqui.


Vai ser o fim do mundo se o próximo filme do Tarantino demorar pra sair no Brasil.

Ô Vó, e o apocalipse maia, hein!?
É oquÊ!?!?!?!?
Os maias previram o fim do mundo para esse ano...
Ai meu filho, o futuro a Deus pertence e esse tal maia ai num sabe de nada. 
É, num sabe nada mesmo...

26 de dezembro de 2012

DEATH GRIPS - THE MONEY STORE

E ai, qual foi o som que mais agradou seus ouvidos nesse ano que passa? Para mim foi um som muito agressivo, confuso e de difícil digestão. Em resumo, um som que os pais iriam odiar e que vai demorar alguns anos para que algo parecido passe nos meios de comunicação populares...quer dizer, perfeito. 
Death Grips é uma porrada, uma bifurcação entre o punk sujo de garagem, o hip-hop agressivo de outrora e a música eletrônica assustadora e dark de um Aphex Twin ou Prodigy. Tudo isso conduzido pelos vocais explosivos do ótimo frontman Stefan Burnett. Vida longa ao conjunto de Sacramento e espero que muitos disco venham por ai.


Minha menção honrosa vai para o The Swans com seu soco na cara em forma de disco The Seer.

Vamos começar na explosão com I've Seen Footage


Se quebre com The Fever (Aye Aye)


Fechando com uma "calma" Get Got

THE CRAMPS - CAN YOUR PUSSY DO THE DOG

Última segundabilly do ano vai com a maior banda de todos os tempos...Dança meu filho, dança...

19 de novembro de 2012

Assassinos bem pagos

Rifles by Black Rebel Motorcycle Club on Grooveshark
Os homens que vivem pelas armas, homens que fazem do matar seu ganha pão. Esses caras que encaram o gatilho como instrumento de trabalho e enxergam nos olhos das vítimas cifrões. Aos melhores do ramo a vida é curta, aos menos talentosos a morte ou a cadeia são destinos mais imediatos. Esses homens não podem exitar ou se pegar questionando sua posição no mundo pois estão na mira de alguém mais rápido e bem pago.
Os assassinos profissionais tem muito poder nas mãos. Porém as armas que carregam miram conforme as intenções dos que pagam pelo serviço.
São filmes claramente masculinizados e, quando bem compostos, carregam o peso e tragédia da sina dos que escolhem o assassinato como meio de vida.
Lembrando que já comentei aqui e aqui sobre os melhores filmes já feitos sobre o assunto (estou falando de Matador em Conflito).

Um Homem Misterioso - Qual o preço a se pagar por ser um homem letal? Vigilância interminável, músculos indefinidamente tensos e sonos intranquilos. Jack mata por encomenda e espera e espera. E ele teme, teme e teme por saber que há uma bala com seu nome. É só baixar a guarda e boom...se foi. Jack tem método e paciência mas nem a bucólica cidadezinha italiana é capaz de baixar sua guarda. Só pela citação a Era Uma Vez no Oeste já respeitei. Anton Corbijn foi muito feliz ao tentar me tencionar, suas tomadas de Jack andando pelas ruelas do vilarejo te deixam em alerta continuo. Honestamente, prefiro Corbijn em seu costumeiro e eficiente p&b. Fica com o trailer.

Na Mira do Chefe - Há quem o coloque entre os melhores filmes da última década, não sei se é para tanto, mas é um filmão. Ray e Ken tem muito sangue nas mãos e depois de um trabalho atrapalhado eles tem de se refugiar na charmosa e medieval Bruges. A aparente tranquilidade da cidadezinha será despedaçada pelos diálogos cortantes e angustiados dos protagonistas e, posteriormente, pelas balas que irão riscar o ar quando o passado vier cobrar seu preço. Da uma espiada no trailer.

Nikita, Criada Para Matar - Me impressionam as "acusações" a estética publicitária utilizada por Luc Besson em seus primeiros trabalhos. Para mim é um grande mérito e o que me atrai estilisticamente. Compro a estética totalmente e valido como competente. O personagem Uncle Bob, interpretado por Tchéky Karyo, vai transformar a fórceps uma garota drogada e descontrolada em uma lady capaz de quebrar pescoços. Sem dúvida um cult. Fica com o trailer desse filme imperdível.

O Matador - Pierce Brosnan conseguiu a verdadeira proeza de te fazer esquecer que um dia ele foi a o agente secreto mais classudo da Rainha interpretando um tipo careteiro, brega, chucro, bêbado  de bigodinho e mortal.  Esse é o tal de Julian Noble que lá pelas tantas vai ficar amigo de um vendedor pacífico e se meter nas maiores confusões. Disso ai surge um roteiro que fala sobre amizade entre opostos (ou não tão opostos assim) e como certas linhas não deveriam ser ultrapassadas para manter-se a amizade. Tudo isso com muito cinismo e gracinhas. E por falar em gracinhas a cena do tubarão na piscina é hilária. Dá uma olhadinha no trailer.

Assassino a preço Fixo - Impressionante, e sintomático, o quanto esse filme nos entrega um final muito mais seco, melancólico e desesperançoso que sua regravação. Charles Bronson continua uma rocha, mesmo com o cabelinho rebelde na testa. Podemos pensar nessa estória como alusão a nova geração (desleixada, drogada e imediatista) tentando engolir a velha (monolítica, metódica e pouco imaginativa). Uma versão anos 70 do analógico versus o digital. Tá afim de assistir essa pérola setentista? Clica aqui então.

The Killer, O Matador - É aquele exagero de pombas brancas voando? É. Tem aquelas cenas de tiroteio com munição infinita? Tem. Tem aquela trama de triângulo amoroso mais bobinha do mundo? Sim. Tem o vilão caricato, sua turba infinita de capangas e o herói honrado e protetor? Tem também. Então por que raios se assistiria esse filme? Pois de 10 em 10 minutos John Woo nos presenteia com uma cena de ação simplesmente genial; um ângulo, uma tomada sinuosa de tirar o fôlego. Por isso vale a assistida. Clica aqui para ver o filme.

Tarantino assistia esse tipo de filme todos os dias comendo seu cereal matinal antes de ir para escolinha...

Que me lembre a unica vez em que minha Vó foi tomada por uma inclinação assassina foi quando ela viu que meu Vô tirou seu bigode cultivado há 75 anos...Tenso...

13 de novembro de 2012

MILTON NASCIMENTO - MINAS

Milton Nascimento é desses artistas dos quais esse mundo não é digno. De uma habilidade vocal que arrepiava  ele lapidou esse diamante intitulado Minas em 1975. Uma obra que guarda muitas surpresas como a linda música de abertura. O disco soou como um verdadeiro alívio em meio a tempos negros de linha dura da ditadura. Esperança, saudades, melancolias,  horizontes ensolarados, tranquilidade, surpresas e completude flutuam a audição dessa obra prima.
 Um desses disco que irei ouvir por toda vida.

Ao vivo a monumental Simples


A linda de doer Idolatrada

E fechando com a etérea Minas

4 de agosto de 2012

Vamps Parte I

Sweet Wine by Cream on Grooveshark
As alegorias suscitadas pela lenda do vampirismo são extremamente atraentes. E de todas as representações do mito vampírico a mais atraente, por motivos óbvios, é a atração vampírica entre duas mulheres.
E o vampirismo nada mais é que uma metáfora para um relacionamento sexual: um ser mais velho sugando a energia vital de outros para sentir-se eternamente jovem...sei! E nada é mais plasticamente excitante que o ato vampírico praticado entre dua fêmeas...nada. E vários realizadores de cinema já repararam nisso há tempos.
O fetiche dos fetiches. A fêmea mais fatal e irresistível de todas seduz e trucida homens sem lhes dar qualquer prazer, e só se entrega ao toque e sangue de outra mulher. 
No geral, o que falta em grandes atuações esses filmes compensam em belíssimos e sinistros planos visuais. E quem liga para atuações quando temos maravilhosas vampiras sugando sangue e acabando com a raça dos maridos bundões.
A matriz narrativa é, no geral, a mesma: uma casal (homem e mulher), que já apresenta sinais de crise, será desfeito com a chegada de uma vampira que irá seduzir o homem e eliminá-lo para enfim poder ficar com a mulher do cara. 
Boa parte da nossa seleção de filmes foi produzida durante um período de ouro do cinema europeu. Tiveram a alcunha de trash, mas o tempo foi redentor e os alçou ao status de cult.
Sem mais delongas, vamos às belas vampiras.
Escravas do Desejo - Me diz: o que são Delphine Seyrig e Andrea Rau sensualizando no mesmo filme? Beira a perfeição. A senhorita Rau entrou para meu hall de musas da década de 70. Não posso deixar de falar da sofisticação da Condessa de Bathory interpretada por Delphine Seyrig, e que seria uma enorme influencia na vampira que Catherine Deneuve viveu no filme de Tony Scott. A climática da película é de delírio, solidão e, por vezes, sufocante. Num esquecido hotel na costa francesa se desenrola um quadrado amoroso com um casal recém casado (e diga-se: o homem é mentiroso, medroso e tem um pai meio esquisitão) e uma dupla de vampiras. Lábios escorrendo vermelho em corredores vazios. Um sussurro e o tesão. Um filme que me capturou pelas imagens. Uma obra prima do kitsch chic que só a Europa setentista poderia produzir. Fique com o trailer.

 Vampiros Lesbos - O mestre do eurotrash mostrando as presas. Mulheres peladas tostando em praias turcas. Soledad Miranda desfilando sex appeal com sua echarpe vermelha é algo celestial...ou infernal. A estética de excesso (de cores, nudez, sangue, closes); o fiapo de trama e a aura viajandona drogada de Franco é ame-a ou deixe-a. Eu compro. Talvez a obra máxima do European Exploitation. Veja o ótimo e não seguro para o trabalho trailer.

As Filhas de Drácula - Será o filme de terror mais sexual de todos os tempos? A nudez carnuda e inesquecível de Marianne Morris confirma a tese. Sem dúvida o filme vampiresco mais alinhado com a recente revolução sexual. Fran e Mirian são sedentas: só se contentam com muito sexo e muito sangue. Homens, mulheres casais... o que vier elas traçam e matam. O estilo de filmagem de José Ramón Larraz é seco, iluminado porém cinza, conforme a climática inglesa. Um filme absolutamente imperdível. Veja o trailer.

A Condessa - O que falta em concisão - tanto na direção quanto na construção de roteiro - sobra em apuro imagético. Quase no limiar geográfico do ocidente, em meio a guerra e o cotidiano sangrento e costumeiro às pessoas da época, uma mulher de poder e força se banha em sangue. Ela luta na guerra de tronos e se perde de paixão. A abordagem de Julie Delpy pode até ser sutil, mas é reducionista. Motivar o banho de sangue promovido por Erzebet Bathory a um caso de coração partido é pouco. Tem muito mais crueldade, vaidade, petulância e arrogância do antigo regime na vida dessa personagem fascinante que esse filme possa supor. A relação de Bathory com a bruxa Darvulia é muito mais interessante do que o pretenso amor entre a condessa e Istvan Thurzo. Vale uma olhadela. Veja esse filme aqui.

Carmilla, A Vampira de Karnstein - Ingrid Pitt pode até falhar em interpretação, mas é uma erupção de sensualidade. Sua personagem, a vampira germânica Carmilla é uma devoradora de mulheres. Por onde passa deixa um rastro de corações partidos e cadáveres. Dentre suas conquistas a personagem interpretada com olhar inocente e volúpia corporal pela linda Madeline Smith é a mais marcante. Veja esse filme dos estúdios Hammer aqui.

Fome de Viver - Poxa, ai é sacanagem. David Bowie, Catherine Deneuve, Susan Sarandon na flor da idade (apesar de que a idade acabou por embelezá-la) e Bauhaus no mesmo filme é covardia. Somando-se a isso a estética pós-punk sombria e a periculosidade sexual da época do surgimento da AIDS tem-se um cult instantâneo. Um romance lésbico-gótico e visualmente kitsch, quer dizer, beira a perfeição. E as qualidades da fita se sobressaem tanto aos defeitos de montagem truncada e trilha sonora datada que não tem como não se envolver: um drama sobre AIDS, um filme de terror. Talvez seja o filme quintessencial do gótico. Quer assistir esse clássico imperdível? Clica aqui.


Tá na hora do Tarantino gravar um vampirexploitation, fala ai!? 

Rezo para que minha Vó nunca leia esse post...

1 de agosto de 2012

BLOC PARTY - SILENT ALARM

Cheguei ao meio da década passada sedento por música. As novidades muito me interessavam. Minha predisposição pelas sombras e melancolia já me indicava que eu iria adorar o mundo do pós-punk. Silent Alarm me serviu como introdução a toda uma produção musical que tinha ficado de fora da minha formação: de Gang of Four a Swans.
Esse disco tem muita raiva. Exala solidão e desespero da metrópole. E a dor do abandono que a cidade proporciona é muito bem representado pelos versos da banda: é como comer vidro e beber veneno. Os acordes não deixam por menos e nos levam da raiva a introspecção.
A banda se perdeu no meio do caminho, fez papelão na primeira passagem pelo Brasil e agora periga terminar. Mas esse disco é sempre poderoso e marcante. Tenho a impressão que esse disco será redimido pelo tempo e vai ganhar status, algo cult.

Vamos começar com a bela So Here We Are


Agora a minha preferida Like Eating Glass


Fechando rasgando com Helicopter

20 de julho de 2012

Financial Times

The Working Hour by Tears for Fears on Grooveshark
Será os ternos e os olhares baços? Deve ser as palestras motivacionais e os profissionais de recursos humanos. Ou será o gosto pela cocaína e garotas de programa de luxo? Talvez seja a falta completa de demonstrações de emoção, os ambientes acéticos, o gosto cultural coxinha. 
Não, com certeza é o fato de lidarem com um poder brutal que não sabem exatamente de onde emana e nem para onde vai. Culpa daquelas malditas tulipas holandesas. 
Devemos temê-los pois são pessoas que entenderam as engrenagens da máquina e tem coragem e paciência  para lidar com elas diariamente e ao seu prazer. Eles desfrutam do bônus e nós lidamos com o ônus.  
O profeta Gessinger já havia interpelado na terceira do plural: "Quem são eles? Quem eles pensam que são?". 
Em comum, os filmes de nossa seleção carregam um alto grau de belicosidade. Filmes sobre a guerra monetária que vem deixando milhões de vítimas nas últimas décadas. A artilharia monetária vem de todos os lados e só quem é muito inocente não espera pelo fogo amigo. Pouquíssimos sobrevivem, a recompensa é gigantesca, mas o tempo para usufruí-la é nulo.
Aos filmes...


Margin Call, O Dia Antes do Fim - Não é a propaganda, é a informação que é a alma do negócio. E um dia antes do apocalipse que tiver a valiosa informação sobrevive. Dependendo do quê e quem sabe - e em qual momento se sabe - o possuidor do conhecimento é descartado ou alçado ao céus. Kevin Spacey lembrando muito sua interpretação em Sucesso a Qualquer Preço. Jeremy Irons (adoro esse cara) está ótimo, quase canastra, sendo asqueroso e predador. J. C. Chandor, em seu primeiro longa, impõem um clima opressor e urgente de fim de mundo que funciona. Fique com o trailer.


Grande Demais Para Quebrar - As crises sistêmicas são muito importantes para dar cor aos homens invisíveis, aqueles que puxam as cordas da economia. O filme de Curtis Hanson é conduzido em tons de guerra - diferentemente das outras produções sobre a crise de 2008 que transpiram sensações apocalípticas. As batalhas são travadas em salas de reunião a canetadas que desferem mais dinheiro que qualquer ser humano normal possa imaginar. O final é de um desalento amargo. Fique com o trailer.


Trabalho Interno - Então a culpa da crise da década é da Islândia!?!? É sempre bom ver os rostos e saber os nomes dos safados. De pronto saiba que o filme de Charles Ferguson te tira qualquer esperança: os responsáveis não só continuarão a andar de iate e jatinho como assumirão postos de vital importância, independentemente de sua profunda incompetência. O que é sólido sempre desmancha, o que nos dá segurança está sempre pronto a ruir. A lista de entrevistados pelo diretor Charles Ferguson impressiona. A defesa de tese de Ferguson é elegante e incisiva, e sim carrega todos os problemas recorrentes de um documentário. De acadêmicos e cidadãos comuns à tubarões de Wall Street ninguém se salva da tentação do enriquecimento enlouquecido e imerecido. Fique com o trailer.


Trocando as Bolas - Se economicamente a década de 80 foi perdida, a década de 2010 será mais ainda. Talvez não para nós brazucas só que o pessoal do estrangeiro vai sofrer. Eddie Murphy já foi bem engraçado assim como Dan Aykroyd. Esse filme tem um quê da era de ouro de hollywood, talvez por ser uma adaptação da obra de Mark Twain e pela direção do grande John Landis que insere Trocando as Bolas no continuum de outras de suas obras como Irmãos Cara de Pau e Um Príncipe em Nova York. Fique com o trailer.


Wall Street, Poder e Cobiça - Aquelas Torres Gêmeas orgulhosas do começo do filme já indicam que os tempos mudaram. Um filme que brilha na filmografia estranha de Oliver Stone. Podemos encarar o filme mais como um relato de época do que uma grande peça artística. Quanto é o bastante? Para Gordon Gekko o prêmio não basta, o interessante é jogar o jogo e ganhar sempre e mais. Aliás, essa é a atuação mais marcante da carreira de Michael Douglas. A trama é mefistotélica, quase todos estão disposto a vender a alma pelo preço que acham justo. Nessa época Charlie Sheen ainda tentava atuar e até manda bem.  A cena em que Budd Fox entra triunfante no escritório e sai chorando e algemado é incrível. Uma menção a trilha sonora do David Byrne. Fique com o trailer


As Loucuras de Dick & Jane - Se não se tem estomago para encarar as jogatinas financeiras pelo menos que haja senso de humor. Refilmagem esperta de Adivinhe Quem Vem Para Roubar, o filme de Dean Parisot ancora sua crítica inspirada no caso de sacanagem corporativa da Eron que deixou muito estadunidense sem direito ao seu gramado e piscina no subúrbio - enfim, uma tragédia. A cena em que Dick tenta atravessar a fronteira do México para os USA e a cena do banho no sprinkler do vizinho é rir até chorar. Quer assistir e dar boas risadas? Clica aqui.


Tarantino investe sua grana em ações da indústria cervejeira.


Minha Vó investe na compra de arrobas de commodities que irão engordar seus filhos e netos no almoços de domingo.

18 de julho de 2012

CAT POWER - JUKEBOX

Por último, por enquanto, uma pérola. Cat nos enreda com paixão avassaladora com seu oitavo disco. Mais uma vez escudada pela cozinha da The Dirty Delta Blues Band - que imprime ao trabalho da cantora uma sonoridade mais quente, classuda e charmosa - Chan deixa sua marca em um punhado de músicas de outros artistas.
Na vida pós-rehab Chan deixou o som e as ideias suicidas de lado e partiu para música maiúscula. Compositora e intérprete que merece todos os elogios e depreciativos legados a ela Chan Marshall tem uma marca inegável na músicas dos últimos anos. 
Aparentemente seu disco prometido para esse ano vai tentar reaver o espírito dos seus antigos trabalhos - o que anima aqueles que preferem a fase mais baixa renda da cantora. 
A mim, resta a adoração de fã. Uma bela cantora bela, né não!?


Começando com Aretha, Sing One For Me


A reinterpretação do clássico New York, New York


Fechamos com Ramblin' (Wo)man

30 de junho de 2012

Macho Man Parte II

Macho by M.I.A. on Grooveshark
Então, vamos a mais uma dose de testosterona setentista? Sem grandes elucubrações vamos saborear mais uma seleção de filmes para machos feitos na década do pelo no peito. 
Alguns marcos estéticos desse tipo de filme: os carros enormes feitos em Detroit; os atores feiões e sem retoques; a absoluta descrença na lei e democracia;  os 3 oitão e espingarda;    cenários interioranos ou urbanos filmados sem firulas com iluminação meio pálida e suja. Essa estética só pode ser definida como cafajeste.
Esses filmes sempre me lembram os velhos e maravilhosos games  beat 'em up. O subgênero me atrai primeiramente pela crueza, sujeira e opacidade da estética setentista. E, principalmente, gosto da audácia temática mesmo que não explícita. 
O macho sempre esteve em crise, não é de hoje, é de alguns milhares de anos. A diferença é que agora aceitamos a crise, há poucos séculos praticávamos o genocídio feminino.
Vamos aos filmes.

Amargo Pesadelo - O homem contra as forças da natureza; o homem enfrentando as consequências das forças de sua própria natureza. Só pela cena do estupro - que duvido muito ocorreria na cinema estadunidense atual - e do desafio de banjos já vale a audiência. A linha que separa o civilizado do bárbaro é medida pela vontade de sobreviver. Sem contar que temos um dos machões alfa da década: Burt Reynolds. A fotografia é bela e ajuda a demonstrar a vilania que a natureza representa ao iludido grupo de amigos acostumados com o ambiente urbano. Não podemos deixar de pensar no risco que esses "moços da cidade" representam à comunidade que ira desaparecer para dar lugar a uma usina hidrelétrica. E essa violência que brota dos homens, deixando cadáveres afundando em rios, deixa cicatrizes permanentes em quem viveu o trauma. Assista o filme aqui.

Lutador de Rua - Charles Bronson é uma rocha, qualquer expressão facial que ele emita sai faíscas. A metáfora é valida: em tempos miseráveis lutar com todas as forças é o que resta ao individuo que quer sobreviver. Em tempos de dureza, para quem não tem cerébro resta os punhos para abrir caminho no mundo. O primeiro trabalho do grande Walter Hill ao trazer a época da Grande Depressão à tela é muito competente, e a costumeira simpatia e sorriso rasgado de James Corburn é marcante. Gosto das lutas em filmes antigos: secas, feitas de punho e sem aquelas pirotecnias e balé. Se quiser ver esse grande filme clica aqui.  

Fibra de Valente - Buford Pusser é a versão meio-oeste, pai de família, do Dirty Harry. Um dos temas mais caros aos estadunidenses é o cara comum, na fronteira da colonização, que se levanta sozinho contra as mazelas do lugar. Essa película é facilmente uma das mais violentas da década mesmo sem ser explícita. Os realizadores não se intimidaram em dar tiros na testa de mulheres ou matar esposas. Um justiceiro tem de se levantar, botar a estrela dourada no peito e partir para cima dos vagabundos. Porém, a luta contra o crime organizado é altamente arriscada e tem que ser macho para aguentar as consequências. Um filme que o finado Alborghetti devia adorar. Dá uma olhadinha no trailer.

Comboio - Nossa, filme de caminhoneiro exala testosterona. Estradas poeirentas, policiais corruptos, perseguições infindáveis, brigas de bar, os trabalhadores unidos contra o estado, bigodões, Sam Peckinpah detonado de álcool e drogas, um mundo desértico e um horizonte infinito. Outro patrimônio machão da década, Kris Kristofferson, protagoniza a fita. Um adendo para a linda Ali MacGraw. O filme obteve um sucesso a época dando um último folego na carreira de Peckinpah. Quer assistir esse belo filme? Clica aqui.

Os Implacáveis, Fuga Perigosa - Putz, que filmão! Fácil um dos meus Peckinpahs favoritos. A cena do Sr. e Sra Mccoy no primeiro dia de liberdade se jogando no rio do parque é simplesmente poética e genial. No fim das contas, Os Implacáveis é a estória de um casamento em crise se firmando com o acréscimo das dificuldades. Traição, cadeia, infidelidade feminina, violência doméstica (escolheram o cara certo para isso, Steve McQueen), assalto a banco, fuga alucinada e México. As clássicas cenas lentas de tiroteio de Peckinpah pululam. Filmaço! Fique com o trailer.

Galo de Briga - Warren Oates (um dos atores estadunidenses mais feio e machão) interpreta Frank Mansfield, um obsessivo instrutor de brigas de galo que cruza o país atrás de combates e apostas com os animais levando uma ninfetinha loirinha a tiracolo. Ele é tão macho que para conquistar seu objetivo abre mão do amor de sua vida e de sua enorme boca aberta. Ele se recusa abrir a boca até ganhar um campeonato. Detalhe, as brigas de galo apresentadas são reais...dá uma certa culpa por gostar tanto desse filme, porém Hellman denuncia o esporte e nos assusta com os sangrentos olhares de satisfação do público - o das rinhas e o de cinema. Belíssimas cenas contemplativas, a América profunda bonachona e sangrenta. Um filmão. Dá uma olhadinha no belo trailer.


Tarantino é macho...mas manda flores no dia seguinte.


Para minha Vovó macho mesmo é quem vai aos cultos na igreja de terça a domingo.

28 de junho de 2012

CAT POWER - THE GREATEST

Chan Marshall é a maior mesmo. Muitos consideram esse disco o ápice de sua carreira, o ponto mais alto da montanha-russa. Tudo isso após uma descida ao inferno de drogas e birita. O Disco é um compendio chic, sempre melancólico porém confortável de músicas gospel, soul,  country, folk; tudo isso acompanhada de uma grande banda que entende do assunto. As canções se descortinam deliciosamente a cada audição. Uma amalgama quase perfeita entre a música negra e branca "de raíz". Um bom jeito de entrar pela primeira vez ao mundo de Chan Marshall. 
Logo após o estouro de The Greatest nossa Chan vira ícone fashion e dá sua pinta nas telonas em parceria com o incrível Wong Kar-Wai. Não posso deixar de colocá-la no barco da crème de la crème da música estadunidense. Por décadas seu nome irá ecoar, mesmo que num círculo restrito de apreciadores. 
Aprecie.


Vamos começar com o incrível video de Lived In Bars


A divertidíssima Living Proof


Agora a arrepiante The Greatest


Bônus: Pede um acústico Love & Communication

1 de junho de 2012

Não Fode

Sex (I'm a...) by Berlin on Grooveshark
Há uma série de filmes que se propõem a focalizar o assunto que mais desperta curiosidade e inquietação de todos: o por quê; como e o que se faz na alcova. Tem muita gente querendo te ensinar como e com quem se deve transar (ou foder, escolha conforme suas determinações de criação). De todas as instituições a que mais me intriga é a indústria pornográfica. Claro, sempre há espaços para nichos - com a internet mais ainda - porém, o porno não admite muitos desvios, independentemente da orientação sexual. As mulheres que o digam, os corpos devem ser esculpidos conforme as tendências da última hora; os comportamentos  e procedimentos do coito também se encaixam em categorias definidas.
Porém há filmes que fogem do sexo clean dos enlatados europeus e hollywoodianos. Filmes que checam a vida sexual de pessoas que nem imaginamos como se comportam desnudos.
E no fim das contas sexo serve para muita coisa: flagelar; se esconder; cauterizar; se humilhar; fugir momentaneamente de um relacionamento ruim; para se sentir vivo; para se matar; para chorar; para ser feliz; passar o tempo e até para gozar. 
E, mal parafraseando Millôr, esquisito mesmo só aquele que não pratica o ato.
Vamos a seleção de filmes.

Beleza Adormecida - Gelado, um filme glacial. Se Julia Leigh queria significar muita coisa falhou. É o típico caso de filme que os silêncios não dizem nada mesmo. Lembra vagamente a obra de Yasunari Kawabata com sua Casa das Belas Adormecidas, mas falha abundantemente onde Kawabata acerta: a decrepitude, amargura e inevitabilidade do fim. Leigh nos apresenta uma jovem sem motivações e vazia. Impossível simpatizar com Lucy mesmo sendo interpretada pela bela Emily Browning. Veja o trailer

Ano Bissexto - A tristeza que Laura esconde é colossal. A foda ocasional é um alívio de minutos.   Sua vida é algo de muito enfadonho mas isso é algo que ela não pode demonstrar, ninguém pode, afinal, quem gosta de gente reclamona? Talvez o tapa na cara, o enforcamento, o golden shower a façam sentir algo. Todos querem sentir em abundância, a homeostase emocional é dolorida. Fica com o trailer.

O Porteiro da Noite - Falha na execução, acerta na premissa. Qual seria a fantasia sexual mais politicamente ultrajante do pós-II GM? Liliana Cavani nos responde com uma relação s&m entre um torturador nazista e sua ex-algoz judia numa Europa ainda cinza e cheia das marcas de balas do conflito. Talvez seria mais instigante se houvesse mais contrastes entre as dores impingidas nos campos de concentração de Maximilian Aldorfer contra a carne de Lucia Atherton e as dores e humilhações consentidas que eles perpetuam na cama. Quer ver uma amostra? Clica aqui. Aviso NSFW. 

A Professora de Piano - Um dos filmes que mais me entristeceram na vida. Não sei porque nos afeiçoamos por Erika sendo ela tão desprezível.Talvez a maior pervertida do enredo seja a mãe de Erika: castradora ao extremo e sem coragem para concretizar o incesto que tanto lhe pesa nos ombros. Erika é um ser estragado e em qualquer relação que se envolver vai levar sua carga de dor à esta. A Erika não está destinado as ternas mãos dadas, ela só sabe lidar com o auto-flagelo. Não há príncipe encantado para salvá-la, lhe resta a degeneração e pequenos momentos de prazer para destruir-se. A facada que Erika desfere em si acaba por doer nos espectadores. Assista aqui esse filmão. Aviso NSFW

As Idades de Lulu - Não posso dizer que gostei, me esforço para tentar entender a provocação. Talvez, no começo dos anos 90 esse tipo de afronta ao casamento burguês ainda fosse realmente aviltante. Lulu, tal qual uma Alice devassa cai em uma surreal espiral de sexo. Francesca Neri é um tesão realmente, e Javier Bardem, em um de seus primeiros trabalhos, se mostra sempre entregue e intrépido em sua interpretações. Quer assistir esse filmes? Clica aquiAviso NSFW

Shame - Não só o sexo de Brandon que causa apreensão na platéia, é sua irmã bêbada que transa com um homem casado; seu chefe e amigo que trai sua família como se nada fosse. O sexo filmado por Alexander McQueen é gelado e pálido como a Nova York invernal que Brandon mora. Na única oportunidade que a vida dá a Brandon de estabelecer um vínculo afetivo ou algo mais significativo que uma simples foda ele broxa. Brandon é incapaz de cometer qualquer sexo que não seja sórdido. E não se trata de escolhas; ele não tem como escolher, tem apenas que lutar ferozmente contra esse impulso destruidor que carrega dentro de si e isso faz a cena final ser tão angustiante e, para mim, pessimista. Fica com o trailer

O Tarantino é um devasso.

Oro a Deus para que minha Avó nunca veja esse post...