28 de outubro de 2011

City Tour: São Paulo Parte I



Você conhece São Paulo? Sem dúvida não é uma cidade para principiantes (nosso país não é para principiantes). Amá-la e odiá-la faz parte de vivê-la. Aqui tem ruas em numero suficiente para seguir em frente por toda vida. É uma cidade que leva muitas vidas para se compreender. Talvez não exista amor em SP. Na distância de poucos quarteirões você experimenta em plenitude a diferença entre viver no Canadá e no Afeganistão. Já foi bem pior, quem viveu os anos 90 aqui sabe muito bem. 
São Paulo é brutal. Na distância de horas ela te fascina e depois te mata. Ela te dá um amor e logo depois te tira. Ela te exaure só para no dia seguinte te exigir mais um pouco. Você está convidado para essa festa, o trânsito, a cultura borbulhante e os ipês amarelos no meio do concreto te aguardam.
Como morador da cidade e admirador da 7° arte sinto minha cidade pouco representada na telona. Há tantas situações e cenários cinematográficos em SP e o que chega nas telonas não dá conta dessa diversidade.
Nessa primeira seleção de ode (ou ódio) a Sampa temos de cara algumas escolhas óbvias e outras nem tanto. Aproveita meu!

E alguma coisa acontece em meu coração só quanto a Alameda Santos vira Rua Cubatão.

São Paulo, Sociedade Anonima - Um nome: Walmor Chagas. A primeira ficção em nossa cinematografia a agigantar SP nas telonas. Carlos é um chato de carteirinha, com seus parcos momentos de simpatia. Enquanto ele perfila suas chatices e misoginias perante as belas garotas que cruzam seu caminho a cidade pulsa, sua face industrial ainda vigorava. Ao menos Carlos é sincero (até demais), e Person da mais possibilidades a trama ao abrir os pensamentos dos personagens ao público. Há imagens que ficarão em sua mente pela vida (como a da corrida de São Silvestre). Recomeçar sempre. Filme imperdível. Deixe um pouco de lado as influências italianas e francesas assumidas por  Person e pense na melancolia profunda dessa narrativa.


A cidade na película: Vá para o Centro velho da cidade e olha para cima.

Cabra-Cega - A esquerda é muito marrenta, sisuda, sem humor, precisa brincar, precisa abraçar o grouxo-marxismo de Bob Black. Tiago (um belo nome) acha que sabe tudo, seus livros e ideias tem a receita pronta para o mundo, mas ele não sabe mais nada. Está encarcerado e não sabe mais rir. Endureceu, perdeu a ternura. Rosa está ali, linda e cheia de mineiríce e Tiago nada. Rosa e seus cuidados para salvar Tiago. E os que mancharam nossa História com torturas e fuzis, ninguém punido, esse país não sabe punir quem merece punição. Gosto do fato desse filme focar as entranhas da cidade e nos encarcerar com Tiago. Apartamento grande, pé direito alto e que estão sumindo nessa cidade. Brinque!


A cidade na película: O bairro Vila Buarque e da Luz (pré cracolândia).

Os Inquilinos - 2006 foi um ano ruim, apesar de tudo, e provou que a rua é todos nós. Valter é esse herói que as novelas nunca terão coragem de mostrar: ele tem tudo a perder, contas a pagar e chefe para aturar e além disso tem de desviar dos ônibus em chamas e aguentar poesias de Ferrez martelando sua mente. Do outro lado do muro moram monstros que o assombram e com quem ele não tem armas para lutar. Bianchi estabelece o medo e o mantém constante na vida de Valter, e não só pela ação de seus vizinhos maloqueiros,  o medo adentra a mente pela televisão, pelas fofocas dos vizinhos e colegas de trabalho, pelas possibilidades diárias de morte e deixar os amados para trás, e pela simples sensação de falhar "na vida". Os paulistanos já estão aprisionados pelo medo há tempos. Para mim, Iara, a mulher de Valter, ainda é um enigma tipo Capitú (e não estou falando de traição). Imperdível. 


A cidade na película: da Praça da Sé mire para qualquer ponto e siga até chegar em alguma periferia.

Não Por Acaso - Essa cidade desafia todos os dias quem anseia por previsões ou controle. As histórias de Pedro e Ênio vão se cruzar pelo choque e depois ambos vão se perder na multidão, em labirintos da metrópole e nos abismos de suas vidas. As ações de um irá ecoar de maneira leve na trajetória do outro, mesmo que eles nunca se encontrem, pelo menos não frente as câmeras. Ênio é desses que vivem para o trabalho, um trabalho regrado e seguro por poder impor controle. Na sempre ótima interpretação de Leonardo Medeiros (um coolzão) simpatizamos com Ênio quando seus escudos quebram e sua filha chega para lhe fazer ver os ruas da cidade de outra forma, o descontrole move. Pedro, na interpretação de Rodrigo Santoro, preza tanto o controle que nem o risco de um campeonato ele aceita correr. Os dois segundos que irão tirar a paz de Pedro para sempre, dois segundos. Alguns clichês a serviço da libertação de controles, como Ênio e Pedro, liberte-se! 


A cidade na película: Vale do Anhagabaú, Bela Vista, Bixiga.

Corpo - Cadáver, a evidência de uma história, de uma época, de segredos insuspeitos enterrados para sempre. Nossa História ainda esconde alguns esqueletos no armário e os assassinos dormem tranquilos, não se pune e nos corredores do funcionalismo público o que há de importância se dilui. Leonardo Medeiros interpreta Artur, ele enxerga os homens somente pela biologia de seus corpos. Artur anda como que sonolento pela cidade e esbarra em corpos e imagina situações que os levariam a óbito. Seu cartesianismo será abalado por corpos, uma mulher que morreu, que deixou herdeira ou não, homônima ou não. O delírio, a fantasia ou a História? Gosto muito do rigor estético límpido e bem iluminado de Rossana Foglia e Rubens Rewald. Os corpos abundam a tela.  


A cidade na película: Sumaré, Vila Madalena, Pinheiros, Butantã.

O Invasor - Nervoso. Essa câmera de Brant me deixa nervoso, quase apreensivo. Classe média alta sofre, não é fácil manter casa nos Jardins com esse bando de gente querendo teu carrão e teu mulherão. É duro, só quem sofre na pele sabe (irônia, entende!?). Gilberto e Ivan se acham malandros e que seu dinheiro lhes comprará tudo, mas em termos de malandragem Anísio é campeão. Anísio é um predador inconsequente porém muito perigoso. O encontro de brigas interiores com brigas sociais. Uma linguagem pop a serviço da crítica social, sem panfletagem babaca. Brant apontou, no começo da década, a chegada de um cinema  brazuca poderoso e carregado de ideias. Imperdível.


A cidade na película: Jardins, Morumbi, Capão Redondo, Paraisópolis.



Tarantino já esteve por essas bandas e foi muito bem recepcionado. 

Minha Avó é um patrimônio histórico de São Paulo.

26 de outubro de 2011

BLACK DRAWING CHALKS

Vem uns caras de Goias e fazem um ótimo som direto e reto pra ninguém botar defeito. É pra se descabelar no carro, pra cantar bem alto no chuveiro, pra se empolgar ouvindo no metrô. Aquele som que empolga os moleque e atrai as garotas. Curti Motorhead? Você vai curtir. Mas se você curte um grunge, um blues, um hard rock também vai curtir. 
Se nunca ouviu, ouça já!


Pra começar a clássica My Favorite Way


Poem teu óculos 3D e vem com Don't Take My Beer


E fechando com a ótima Red Love

24 de outubro de 2011

7 de outubro de 2011

O Ás de Espadas



Há algo de muito nobre num jogo de cartas. Eu admiro muito mais os jogadores de cartas do que os jogadores de xadrez. Eu admiro quem lida e entende tão bem a fortuna. Gosto de pensar que há pessoas totalmente cientes da importância do plano e do cálculo que caí por terra ao menor sopro do acaso. Gosto da resignação de quem compreende que pode até tentar controlar as cartas que recebe no jogo, mas outros estão jogando, as chances de ganhar e perder são equivalentes a todos da mesa.
A coragem de apostar. A esperança de ganhar. A fleuma para blefar. Todo mundo arrisca, aposta, ganha e perde. Não estou falando da mesa de apostas, estou falando disso ai que chamo vida. Claro, tem gente que nasce com as melhores cartas nas mãos, e mesmo que você não tenha um full house hora ou outra você vai ter de arriscar.
Os filmes com essa temática me agradam demais e abaixo vão alguns bons (e outros nem tanto) exemplos. Lamento que não tenha (que eu saiba) filmes brazucas sobre o tema. Fala ai, um filmão sobre truco seria bem legal.
A sorte está lançada.

007, Casino Royale - Tá, beleza, os saudosistas reclamam, mas que a nova abordagem de 007 ficou bem bacana, ficou (santo Bourne). Bond não sabe jogar, ele é um blefe, não está no nível de Le Chiffre ou de outros demônios. Vesper Lynd vai ensinar o jogo a Bond. Ela vai provocá-lo, machucá-lo e calejá-lo. Vesper (ah, os olhos quadrados de Eva Green!!!) tem sempre um plano, ela sabe usar a sedução, Bond ainda é muito impulsivo e sem charme. As inverosimilhanças estão lá, em menor numero que todos os outros filmes anteriores, porém aqui temos, finalmente, o desenvolvimento do personagem para além das características de seus interpretes. As cenas do jogo de pôquer são ótimas. Um ótimo filme de ação. 

Maverick - Uma sessão da tarde muito agradável, nada nada revolucionário. Pode-se até dizer que seja um filme deslocado no tempo e que "funcionaria" melhor nos anos 40, quem sabe? Talvez seja um documento de uma época em que Mel Gibson mandava em Hollywood. É a velha história do ladrão que rouba ladrão, é no velho oeste e com belo cenários, que é sempre um mérito.

Cartas na Mesa - Para mim um cult absoluto, pena que poucas pessoas conheçam. Só pelo elenco (destaque para Malkovich e o sempre marcante John Turturro) vale assistir. E, claro, para ver a beleza de Gretchen Mol. Não há nada de maior apelo a um homem que a fidelidade de uma amizade verdadeira oferecida por outro homem. É algo tão atraente quanto uma lâmpada para uma mariposa. Mike está em dívida pelo sacrifício que Worm sofreu em seu lugar. Mike sabe o gosto amargo da perda total e nada o levaria a arriscar perder tudo de novo. Nada até Worm chegar. Mike é um apostador metódico e domina a arte. O amor de Jo o domesticou, mas amor não é tudo, certo!? Ele deve voltar a ser o que realmente é, e para tanto terá de vencer o gigante do submundo novaiorquino do carteado, Teddy KGB o espera. A técnica de filmagem limpa e clássica de John Dahl é muito atraente, sua Nova York é underground e um tanto suja, porém linda. Imperdível.

Quebrando a Banca - Poderia ser incrível, mas não rolou. A velha formula da jornada do herói só dá certo  com ousadia, não é o caso desse filme, sem surpresas, depois de algumas provas o herói vai vencer. Pena, Jim Sturgess é um ator muito interessante e pronto a explodir. 

O Crupiê, a Vida em Jogo - Outro cult inegável. Jack é um escritor...ou um personagem de romance? Quem está escrevendo a estória de quem? Jack é um cínico e um honesto, impossível não simpatizar com ele, claro que a distância. Jack não joga, pelo menos é o que ele acha, mesmo assim é um viciado: não na emoção da incerteza de ganhar ou perder, mas na certeza de ver a esperança se esvaindo da face de um perdedor. Belo vício. A Londres filmada por Mike Hodges é sufocante e indoor. Clive Owen tem sempre, no mínimo, uma presença marcante.

A Mesa do Diabo - Os cenários são quase grandiosos e o foco do diretor Norman Jewison exacerba a lateralidade dando fluidez na narrativa. O mundo pertence a Eric Stoner, o Cincinnati Kid, uma estrela em meteórica ascenção no mundo das apostas de New Orleans. Falta destruir um último obstáculo. Falta destruir velhas lendas do carteado. Falta humilhar Lancey Howard. Outro embate do filme se dá entre os atores Steve McQueen e Edward Robinson: uma estrela em ascensão e uma lenda viva e meio esquecida do cinema. Cincinnati ainda é Kid, ele tem que aprender a cair, a perder. Sua inconsequência é perigosa, mesmo alguém tão hábil pode por tudo a perder ao cortar as cartas. O que Cincinnati aguentaria perder: a namorada (a belíssima Tuesday Weld), o dinheiro? O pior seria perder a reputação. Você arrisca? 

Tarantino só aposta valores altos e há suítes com seu nome em Las Vegas.

Minha Vó odeia jogatina e acha que o vício do jogo é a influência do tinhoso na vida dos homens.