10 de janeiro de 2014

Os Melhores de 2013

Summertime(Porgy&Bess) by Porgy & Bess on Grooveshark
Depois de um ano atribulado resta ponderar sobre os ápices que meus olhos puderam testemunhar desse engano chamado cinema. Farsa que nos fascina e incomoda ao ponto de provocar discussões e implicações.
Mas de longe o que de melhor eu vi esse ano estava formatado em seriados. As séries tem se demonstrado formas narrativas mais encorpadas com mais possibilidades de desenvolvimento de personagens e cenários e visualmente tem se aprimorado a passos largos.
O melhor que vi esse ano foi: Mad Men, Breaking Bad, Game of Thrones, Doctor Who e Parks and Recreation.
Vamos a lista de filmes. Fica a menção honrosa a Gravidade com sua construção imagética arrebatadora e A Morte do Demônio, remake mais legal, protagonista mais gatinha. Queria muito que Círculo de Fogo estive entre os melhores, mas Del Toro afrouxou , fico com Evangelion...de longe. E queria profundamente que O Grande Mestre de Wong Kar-Wai fosse incrível, mas não...
Aos selecionados.

A Caça - A marca do pecado impressa na pele, imperdoável, irremovível. E quem sairia ileso da acusação do crime mais vil de nossa era? Mikkelsen atua como Lucas, um feliz, divorciado e pouco ambicioso professor de escola infantil numa cidadezinha da Dinamarca. Todos se conhecem, o bem estar social impera e Lucas é amigo de todos. Uma de suas aluninhas, que lhe rendinha muito amor, tenta demonstrar seu sentimento de forma infantil e sem jeito, Lucas lhe reprime, não há dúvida em relação a sua conduta, mas ela confunde raiva, decepção e imagens e palavrórios que ouviu em casa e acusa Lucas. A comunidade não terá dúvidas, o culpado é óbvio. Um filme que lhe fará sentir dor física. Ser professor do ensino infantil é um trabalho de alto risco para homens...Fique com o trailer.

Azul é a Cor Mais Quente - Um drama demasiadamente humano: descoberta, ascensão e queda de um relacionamento amoroso. Universal ao ponto de causar identificação imediata nos sensíveis ao assunto. Pouco importa a variação de gênero do casal protagonista, dores e delícias afligem todos. Amor é fome, de macarronada ou ostras, a pele de nosso amor nos dá fome. E Adèle é uma esfomeada. Emma é mais sofisticada e talvez mais sorrateira em seus pecados. O tesão e o amor vai pesar, assim como a criação e os prisma para olhar a vida que cada uma carrega. Infinitamente superior ao quadrinho que o originou por sabiamente optar pelo caminho do corriqueiro ao invés do melodrama. Não há dúvidas que a grande força da película está na soberba entrega das atrizes principais que imprimem uma veracidade ao relacionamento das personagens como nunca havia visto. Da uma olhada no trailer.

O Mestre - Sempre se perguntou como nasceu uma religião? Como surge a liturgia, quem presencia os milagres, como se forjam os símbolos sagrados de um deus, quem se configura como o bastião da palavra divina? Cá está seu manual. Sempre haverá os sedentos, os alquebrados e os que precisam de um guia para vida, e sempre haverá os que tem Paul Thomas Anderson é um desses diretores que não tem erro, assim como o trio principal de atores, destaque para as cenas em que Amy Adams duela com Joaquim Phoenix. Assista ao trailer.

O Som ao Redor - Estamos encarcerados, dentro e fora de nossas moradas. Estamos encarcerados em nossas relações e perspectivas. O som retumba, incomoda e não respeita as grades. Ao nosso povo melancólico, violento e, novamente, encarcerado numa lógica social que todos identificamos como bizonha e perdura por séculos só alterando nomes e formas, mas mantendo a essência. Ao passo que destruímos diligentemente nosso passado intimo para dar lugar as aspirações materiais e imponderáveis da nova classe-média. Um painel de personagens e situações pinçadas que começa como um registro tendendo ao realismo mas acaba vertendo para um suspense contido e um terror que nunca explode. Não se espante se você estiver vivendo algo parecido. Fique com o trailer.   



Agora vamos a lista mais importante, os melhores filmes de outrora que eu nunca tinha visto até esse fatídico ano. O cinema estadunidense dos anos 70 é insuperável. de comédias triviais aos densos dramas policiais o que se gravou nessa época é de uma grandeza assombrosa pela crueza, falta de freio, superação de restrições técnicas e ousadia temática. Mas não iremos nos restringir, sobrou espaço para filmes incríveis dos anos 50 e 90. À eles.

Garotos em Ponto de Bala - Apesar do infeliz nome brasileiro, que filme. Quem melhor poderia treinar um time infantil que um velho ranzinza e alcoólatra? Ah, os anos 70. Antes do bulling, dos campeonatinhos em que todo mundo ganha medalha e é vencedor mesmo sem ter se esforçado, quando os professores usando de truculência. A ética estadunidense de winners e loosers e as sempre bem vindas e enriquecedoras estórias de superação dos perdedores. Acertadamente Michael Ritchie filma de forma naturalista as crianças jogando sem o filtro dos cortes que deixariam a ação mais artificial e "plástica". Tô pra ver um filme que eu não goste com o Walter Matthau. Assista ao trailer.

O Reflexo do Mal - Arrepiante e belíssimo. A cena derradeira é um tanto quanto desnecessária, mas vá lá... Estamos num cenário southern gothic. O gótico americano, o terror incrustado no coração do sonho dos pais fundadores. Crimes horripilantes, vampiros, fetos, suicídios macabros, marcas da guerra e plantações de trigo ao entardecer. O trabalho de Philip Ridley lembra por demais os quadros de Edward Hooper (o que na minha opinião é sempre um acerto). Imperdível. Se quiser assistir a esse filmaço na faixa clica ai.

O Incrível Homem que Encolheu - Um típico cidadão, cheio de si pelo seu mediano conforto perante sua situação econômico-social, ao passar pela odisseia clássica da ficção científica acabará por entender o seu lugar na cadeia universal. Scott Carey sofre um acidente com resíduos atômicos (terror típico macartista dos anos 50) e começa a encolher. A partir daí sua casa de subúrbio se torna um perigo do nível da Grécia mitológica. O esclarecimento da irrelevância do indivíduo perante o real. Um dos grandes desfechos da história do cinema. Veja o trailer desse clássico.