26 de novembro de 2010

Visões de um futuro imperfeito parte II



Acho que é a situação político-social na Guiné-Bissau. Com certeza é a ascensão do direitismo com inclinações neonazistas na Europa. È o derretimento do gelo andino. O espancamento de pessoas na Avenida Paulista. São as ilhas de lixo se acumulando no Pacífico. O mundo já acabou no Haiti. São os moradores de rua sendo exterminados por grupos de matadores no Nordeste do país e Stanley Kubrick em seu maldito messianismo. É o mal estar de estar na civilização? E não adianta esperar que uma epidemia zumbi chegue, já chegou, não viu!? Abra bem os olhos ao passar pelos Campos Elíseos, na Luz, embaixo do Minhocão e não para nesse país tropical, vai até os becos de Baltimore. Falta de esperança, que coisa feia diriam, mas no fundo ninguém sabe bem o que esperançar para os que ficarão quando sairmos de cena. A gente só teme, já reparou? E sempre fica a sensação que não fizemos o bastante.

Minha criação cristã incutiu no fundo de minha consciência um interesse atroz por apocalipses ou pelo fim de mundos como conhecemos. Em que momento irá colapsar? E mais importante, por quê? Por quem? E depois do colapso, o quê? È inevitável que a filmografia sobre o fim da humanidade fascine. Continuaremos na seleção de películas que testemunham o fim do mundo e o depois.

Veja. 5...4...3...2...1...BOOM!!!

O Último Combate – Um filmaço. F-I-L-maço. Luc Besson estréia com os dois pés direitos nesse incrível estudo sobre civilização e brutalidade. Filmado em p&b, onde o branco e o cinza prevalecem, num futuro longínquo em que até a linguagem se perdeu alguns símbolos de um mundo organizado insistem em resistir. Civilização se conquista a força. Paus e pedras versus a espada e nem sabemos mais rezar. Lá fora o deserto infinito, à porta o maior predador de todos, e você com fome de tudo. Precisa falar que Jean Reno estraçalha?

O Dia Seguinte – De que se tenha notícia a humanidade já esteve muito próxima de um apertar de botão de seu fim. Um filme aviso sobre os resultados imediatos de uma guerra atômica. Apesar de seu aspecto low-fi a fita registra cenas aterradoras (principalmente quando lança mão as cenas com cenografia clássica e turbas de atores). Um roteiro que primou pelo realismo, apesar de deslizes bobos com aquele discursinho we are the world e a bandeira estadunidense flamulando. Vale como registro da época em que a humanidade gelava com a possibilidade da guerra final.

1984 – Tá certo tem de se falar desse filme. Belíssima adaptação por visualizar em detalhes a frieza e a desesperança do romance do senhor Orwell. Toda e qualquer forma de uniformização deve ser combatida, um mundo sem pluralidade é inaceitável e anti-humano. Os cenários e as atuações são arrasadores e te atingem em cheio. Como eles se sujeitam a aceitar serem governados dessa forma? Ovelhas!...Sorria, você está sendo filmado.

O Sacrifico – Com a densidade de um metal nobre Tarkovisky resolve por em discussão toda a filosofia humana antes que o mundo exploda. Explosões são inevitáveis, vamos nos apoiar nos ombros de gigantes: vai de Shakespeare a Nietzsche. Talvez a maior coleção de grandes frases do cinema. Talvez o pincel de Tarkovisky pinte os quadros mais absurdamente belos que já vi numa tela. Talvez. Suas cores são opacas, esmaecidas, quase faltam e delineiam profundíssimas paisagens, naturezas mortas e retratos. Uma câmera longínqua passeando elegantemente pelo casarão para enfocar o desespero de quem se depara com o fim do mundo. Fim de que mundo? Acho que algo explodiu dentro do espírito de Alexander.

WaterWorld – Não é um filme que se diga: “Puxa, mas que filme supimpa”; mas vale a sessão da tarde. Kevin Costner como um Aquaman pobre faz o que se precisa dele, fala pouco e bate muito, daria um joguinho legal de videogame. Tem o Denis Hooper também, o que é sempre bom. Fazer o quê? Eu gosto.

Final Fantasy – Um avô de Avatar. Quando saiu fez barulho, chegou-se a cogitar que seria o fim da profissão do atores reais. Muito barulho por nada. Uma pitada de Budismo no pós-apocalipse. Um trabalho de animação primoroso e pioneiro na captação de movimentos. Peca por ter um final frouxo e inconclusivo, e mais ainda por personagens que não cativam em momento nenhum e mesmo que fosse gente como a gente não daria jeito, no Playstation é bem mais legal...

Idiocracia – Você já reparou como as pessoas mais idiotas, mais brutas e mais vazias sempre sempre se reproduzem? Não conseguem garantir a paz de sua extinção genética para as gerações futuras. Num futuro em que a burrice se reproduziu e tomou o mundo de assalto quem tem dois neurônios é rei. Poderia ser inesquecível com um argumento desses, mas o criador de Beavis and Butthead não quis criar mais polêmicas e amedrontou. No resultado final é mais ou menos, vale a curiosidade.

A Epidemia – O começo do começo do fim. Não vi o original, mas certeza que George Romero abriu um sorriso com esse remake. Essas analises de reação em pequenos círculos sociais dão sempre bons filmes, acabamos nos enxergando. Cara sou fã do Timothy Olyphant. Um filme muito bem resolvido, empolgante quando deve e apavorante sempre que pode.

 
Tarantino paga um pau para o Tarkovisky e queria dar um rasteira no Luc Besson
 
-Esse mundo tá no fim mesmo. É o fim dos tempo...
-Dos tempo??? E é mesmo Vó, é mesmo.

25 de novembro de 2010

HURTS


Pronto para dançar? Essa dupla de Manchester (bom sinal) fazem uma ótima música eletrônica com um pé no saudoso Synthpop e carregam com originalidade a tocha que Depeche Mode, Ultravox e Cia. ascenderam. Mega estilosos, com vocais sisudos e harmoniosos criaram divertidos e imperdíveis refrões.



Seus clipes são imperdíveis. Aperta o play e seja feliz. Dance baby, dance!!!
Primeira música é a viciante Wonderful Life


A próxima é  Better Than Love



E para fechar, provavelmente o clipe mais bonito que você viu e verá em tempos...

12 de novembro de 2010

Gótico Chic Parte II



Dando prosseguimento a seleção de películas que dão preponderância a estética da sombra. Aqui você encontra o básico da cartilha: celeiros em chamas, castelos isolados em ilhas, florestas com formas retorcidas, a lua maior que o sol, corujas e corvos, maldições, cemitérios, delírios, neblinas, elegantes fios de sangue, praias de rochedo, Diabolus in musica e gente pálida. 
A arte gótico-romântica-sombria é inevitavelmente fascinante pelas suas recusas. Não abraçou com calor o Iluminismo o pensamento cartesiano e a ordem da máquina. Abraçou o caos de dentro do homem e do mundo natural, preferiu o sentimento desbragado ao pensamento racional, certeiro e ordenado. Por isso a angústia acima de qualquer sentimento,  o homem, que se percebeu indivíduo há alguns séculos, se sentiu inescapavelmente sozinho num mundo frio e escuro. Arte para chorar, para se dar conta da melancolia e solidão. Tudo isso contaminou de forma viral todas as artes, afinal, com tantos atrativos charmosos esteticamente e possibilidades infinitas para construção de enredos quem vai recusar vez ou outra filmar a meia luz um homem pálido de passado inexistente? Para mim é e sempre será fascinante.
Um Post em homenagem a Bela Lugosi, Andrew Eldritch, Horace Walpole, Alexandre Herculano, Charles Marturin, Bram Stocker e toda turma que usa casaca preta e cartola.


Assista os filmes e abracem a noite.

Frankenstein de 1910 – Ah cara, pelo amor! O que passava na cabeça doentia desses caras até os anos 30? Nas quatro primeiras décadas de vida do cinema foram criadas as imagens mais sombrias e assustadoras de todas. Num tem criança morta japonesa, psicopata americano ou nazista canibal que dê mais medo que esses caras maquiados de cara retorcida sem pronunciar palavra. Que Frankenstein monstruoso, arrepiante, a tradução do que assombra. Kabuki.

O Homem que Ri – O clássico herói gótico: amaldiçoado, aberrante, hostilizado, confuso e confundível, buscando seu amor que insiste em escapar. Esse filme expressionista é um cinema maiúsculo que é imprescindível para quem gosta da arte. Conrad Veidt fez algo que poucos atores se comprometem a fazer; se investiu de talento e entrega total para se imortalizar. Baseado na obra de Vitor Hugo é um filme imperdível.

Crimes da Rua Morgue de 1932 – Cenários expressionistas deslumbrantes. O filme começa com gargalhadas e sorrisos nos personagens. Os sorrisos amarelam, fecham e a boca torce, instala-se o pesadelo. Essa versão para o livro de Allan Poe tem cenas extremamente cruéis e ousadas para sua época, mas a versão galhofeira de Dupin incomoda. É melhor continuar não sabendo o que se passa atrás das janelas da cidade, você pode acabar encontrando o terror e a tragédia da metrópole. Os monstros se soltaram e não há grades que os prendam ou que nos protejam.

Histórias Extraordinárias – O gótico kitsch. Um elenco de enormes atores e diretores. Três contos de Allan Poe entregues nas mãos de três realizadores. Os dois primeiros me agradam, o ultimo é um porre, mas para quem ama Fellini, quem sabe? Destaque para lindíssima Jane Fonda e para o segundo e mais perturbador conto na direção de Louis Malle com a presença de outro coolzão Alain Delon. Vale como curiosidade.

A Hora do Lobo – Bergman consegue assombrar? Um pouco. Num p&b sempre belo (e deslumbrante quando são mostradas cenas das memórias pecaminosas) imergimos no pesadelo de um casal isolado em seu idílio. Um deles vai quebrar, sempre quebra. O problema não é o Éden, mas quem vai par ao Éden. Lá tem tantos frutos gostosos; sempre quebra. Castelos escuros, assombrados e casamentos gelados. Os fantasmas de Bergman não se divertem.

Nosferatu, o Vampiro da Noite – Klaus Kinski é assombroso, sua atuação deveria ser estudada (com certeza já é). Ele é a morte, a peste, a fome, soberbo. Herzog honrou as calças ao dar sua versão para um clássico absoluto da cinematografia de seu país. Um filme que reproduz em mim a sensação exata de estar sozinho numa casa estranha e vazia. O silêncio imenso e a sensação de que lhe enxergam e que podem atacar a qualquer momento. E Drácula ataca silencioso e sem afobação.

Família Addams 1 e 2 – Maravilhoso. Recentemente, reassisti e as lembranças de minha infância foram acrescidas de minha certeza “adulta” de que são ótimos filmes. Engraçados, cruéis, encantadores, melancólicos, uma família como qualquer outra. Raul Julia e Anjelica Huston são hilários, principalmente quando a tragédia se abate sobre seu rebento e ele fica loirinho e rosado. E reparem no cuidado da direção de arte para fazer essa comédia negra ser capaz de rasgar teu coração e te deixar gargalhando no escuro. Para assistir de tempos em tempos.

O Corvo, a Cidade dos Anjos – Todo mundo só lembra do primeiro. Essa continuação muito me agrada. Tem o Iggy Pop louco total. Tem a Mia Kirshner, linda garota gótica. O enredo é mais pesado, violento e sujo.  Nesse mundo inteiramente destruído, drogado e sem segundas chances alguns seres encontram na vingança sua única forma de redenção. A cidade corrompida lembra e muito alguns cenários paulistas atuais.

Tarantino se fantasiou de Byron nesse ultimo Halloween.

Ai que horrorrrrrrr! Dia das Bruxas é do Diabo, você sabe, né!?
Claro que sei Vó. Por isso eu comemoro o Dia do Saci.
Ai que horrorrrrrr!

5 de novembro de 2010

Jean Reno um Coolzão Francês

Esse post vai ser dedicado a outro grande ator que esta na minha galeria de ícones. Ele é um excelente ator que toma decisões ruins na hora de escolher certos papéis, é verdade. Quer saber os motivos desse cara ser fenomenal na tela?
São os olhos semicerrados em qualquer situação. É a atitude “I don’t give a fuck” mesmo quando o mundo ao redor se esfacela ou o amor de sua vida sai porta fora. É o nariz exuberante, a segunda principal instituição francesa masculina (logo atrás do adultério). É o punho da potência de um meteoro. É o fato de cobrir qualquer outro ator em cena quando seu corpanzil aparece impávido. São as poucas palavras antes de puxar o gatilho. Porque quando ele atira a bala vai para onde ele quer. É o fato de ter virado um personagem de videogame. É o fato de ser um cara bem engraçado, a sua maneira. E é porque ele de bigode é mais estilo que você de terno Armani.
Jean Reno uma força da natureza. A testosterona na forma mais elegante e blasé que a natureza já concebeu. Um símbolo de macheza inalcançável. Vamos a uma pequena seleção de filmes que tentam fazer jus ao grande ator francês.

Subway – Visualmente classudo, apesar dos imperdoáveis deslizes capilares e de vestuário dos anos 80. Uma história sobre cair na toca do coelho e descobrir um mundo maluco lá embaixo. Um pouco abaixo das solas de seus pés outro universo descortina. A urbanidade esconde uma infinidade de experiências inalcançáveis para o resto da humanidade. Luc Besson (que já foi o salvador do cinema francês) se apropria de elementos das Bande Dessinée para contar uma aventura frenética (no primeiro segundo da fita percebesse que não haverá descanso para o espectador). Claro que Monsieur Reno rouba a cena. Sem falar nada ele diz mais que um discurso de Fidel.

Imensidão Azul – Outra parceria Reno/Bresson. Um filme lindíssimo, lindíssimo. A narrativa clássica do caminho do herói. Ou a narrativa de uma amizade inquebrável carregada de todos seus elementos: admiração, inveja e competição. Ou uma história de um amor rápido e explosivo. Ou a história de integração total de raros humanos com o seu meu ambiente. Um filme que mostra que Jean Reno foi o primeiro garoto da turma a ter pelo no peito, e claro, o cara debulha em cena, engraçadíssimo. E amor só o de mãe mesmo. Assista!

O Profissional – Um dos filmes da minha vida. A equação é a seguinte: Jean Reno no seu papel mais icônico + Natalie pré-adolescente e incrível Portman + Gary Oldman no seu usual pscicopatismo + Danny badass mudafucka Aiello + Nova York limpidamente enquadrada de seus telhados = um dos melhores filmes dos anos 90. 

Ah, esqueci, a imitação que Jean Reno faz do John Wayne é de fazer o Wagner Moura parecer um ator de buffet infantil.


Os Visitantes – Uma comedinha que não faz mal a ninguém. Senhor Reno é obviamente superior (até porque ele é um nobre guerreiro) a qualquer outro ser que aparece na tela. É notável como são mostrados os costumes e alguns maneirismos medievais em comparação com os do homem moderno. Evoluímos? Sim, evoluímos.

Ronin – Alguém realmente páreo para o Monsieur Reno, Robert De Niro. Um dos grandes filmes de espionagem da era pré-Bourne. Ditou as regras para o gênero no mundo pós-queda do muro de Berlim em que antigos servidores de bandeiras ficaram ilhados sem as diretrizes de seus headquarters. Esses fantasmas vingativos vão ter de se integrar aos novos tempos, soldados sem generais viram mercenários e a vida passa a valer algumas cifras. Perseguições de carro embasbacantes nas ruas francesas, traições e vinganças. Um prato cheio para um sábado à tarde.

Wasabi – Tá certo, não é lá um grande filme, mas tem seus momentos. Como conquistar uma mulher Jean Reno style. Como lutar contra a Yakusa Jean Reno style. E a filha japonesinha nariguda é uma piadinha engraçada. De Paris a Tóquio, com seu revólver 38 de meio metro, o cara domina a situação.

22 Balas – Poderia ser um filme de máfia memorável, mas dá suas escorregadas por querer mostrar bandidos com coração e outros malvadões que pisam no pé de velhinhas. Não me venha com moralidade de bandido, nem de polícia, nem de velhinhas. As filmagens são belas e ensolaradas e o Jean Reno agüenta 22 balas no corpo, ele cospe na cara do 50 Cent.

Tarantino está esperando para criar um roteiro digno desse ator imortal. Mas ele deu o nome de Reno para sua moto Harley Davidson.

Minha Avó da risada horrores com o narigão do Jean Reno.