27 de maio de 2011

Comilança


Agora os estômagos vão roncar. Vamos falar da mais básica, impiedosa, atraente e individual (porquê, afinal, a fome é somente de quem a sente) arte humana: a arte de alimentar e ser alimentado. Dá para fazer isso sem qualquer arte mas quem resiste a um belo prato bem montado de sua preferência?
Ultimamente comemos tão mal que não damos mais a devida importância ao estômago. O que entra por nossa boca além de garantir vida pode prover sensações inestimáveis e inesquecíveis.
Toda vontade é uma fome disfarçada.
A fome move povos através de oceanos, induz exércitos através de guerras atrozes e também move homens a construir lindos templos em homenagem e exaltação à boa comida. E vamos ser sinceros quem sabe alimentar os outros com beleza merece todas salvas.
Obviamente o cinema não deixaria de abordar o tema. No geral food films dão belos frutos como você vai reparar na seleção abaixo. Mande bala no seu prato preferido e mergulhe numa sessão de cinema. Poucas coisas na vida são mais prazerosas que isso.
Aos filmes...

Um Banquete Para o Rei - Às custas de rios de sangue e suor de seu povo a corte de Luis XIV sabia dar um belo dum banquete. Não posso deixar de pensar que a força e violência usada pela turba de esfomeados contra a realeza não se compara com o que sofreram por séculos ( mas a revolta se perdeu no caminho, tudo se perde). Em meio a baldes de dejetos e ratos a corte se banhava (modo de dizer pois ninguém na corte se banhava) em ouro, perucas e jantares nababescos orquestrados por um habilidoso e diplomático Françoise Vatel que se esgueirava em meio ao tiroteio de caprichos e vaidades da nobreza. Roland Jaffé se utiliza do ângulo holandês para acentuar esse clima de absurdo aos olhos do espectador moderno. Um filme Crème Brûlée.

Soul Kitchen - Olha, filme alemão que te arranque um riso é difícil, nesse saboroso trabalho de Fatih Akin se prepare para gargalhar. A mistura dá sabor aos alimentos, e dá sabor ao dia a dia. Uma sociedade só com cabelos amarelos é bem menos atraente que uma sociedade multicolor. Faith Akin percebeu isso faz tempo e dado a situação atual de ascensão galopante da xenofobia européia (algo que não é tão contemporâneo) chega a ser um cinema manifesto ou de militância. Mas diga-se um manifesto colorido, pop, agradável, esperto e muito bem feito. Um filme assim Spaghetti de pupunha com espuma de gengibre.

Meu Jantar com André - Que melhor momento há para tirar o Aristóteles, o Nietzsche, o Button de dentro de você senão num jantar com os amigos? Quem ainda aguenta aquele tio que acha a solução para todas as misérias do Brasil numa conversa dominical pós almoço? Wallace e Andre são personagens Woody Alleanos só que sem o humor agridoce. Membros da burguesia intelectual-artística-judáica-novaiorquina eles carregam todo o peso de ser. Não sei porque esse filme me remete imediatamente ao Complexo de Portnoy de Philip Roth. Eu amo filmes com poucos personagens atuando em espaços reduzidos e esses personagens carregam tanta bagagem. Não parecem personagens com duas horas de história, mas com uma história inteira de vida. São cheios de nuances, opiniões, frustrações, medos e expectativas. A sequência final enche meu coração de nada e meus olhos marejam. A comida é um detalhe ante os gigantes que atribulam a alma humana. Um filme Cabernet Sauvignon.

Estômago - João Miguel e Fabiula Nascimento são dois dos meus atores nacionais preferidos e nesse filme eles dão um show. Aqui temos outra daquelas histórias de embrutecimento. Nonato vai para cidade meio jeca, meio desconfiado e terá de se virar na selva. Ele tomar as rédeas da situação mas antes deve ser lapidado, quebrado e reinventado. De Nonato vai virar Canivete e coitado nunca. pena que pouca gente viu, um filme maravilhoso merecendo uma chance de ser assistido por você. Experimenta porque é bom e faz crescer. Um filme PF bem servidão e gostoso.

Como Água para Chocolate - Não são cem, mas os vinte, trinta anos de solidão que Tita enfrenta são dolorosos. Tita nasceu sob a égide de um México que precisa acabar. O México precisa de uma revolução para tirar das entranhas tradições perniciosas que aprisionaram vidas por décadas. Tita é uma daquelas princesas amaldiçoadas de contos de fadas em busca de um príncipe que quebre o feitiço. Só que o príncipe não tem força para isso, Tita vai ter que se virar sozinha. O realismo fantástico quando bem usado (este é o caso) sempre surpreende e encanta. Eu adoro direções de arte que se esforçam para deixar o filme com cara de sépia. Um filme comida bem caseira.

Tampopo, Os Brutos Também Comem Spaghetti - Outra comédia deliciosa. um filme imperdível. Várias narrativas liguam a história da japonesinha viúva Tampopo em busca do lamem perfeito. As narrativas exploram do erótico ao filme de gangster, do surrealismo pastelão à disciplina xintoista-samurai. A cultura nipônica prescinde de ritual e perfeição de execução e na culinária não seria diferente. Os personagens são tão carismáticos e a situações tão insólitas que não há como não se ver capturado até a última cena. A sequência do prato feito de tartaruga é bem chocante. Para mim um clássico e agradeço àquela que me indicou. Um filme missoshiro e yakissoba.

A Festa de Babette - Um roteiro de desfecho delicado e marcante. Que tal dobrar a severidade calvinista com molhos e temperos? Que iria imaginar que a severidade das paredes nuas, do céu cinza, dos longos vestidos pretos, dos hinos de marcação rígida e de uma educação moral brutal que culminaria em duas guerras mundiais poderia ser pulverizado por uma noite de prazeres gastrônomicos. Todos na vila tem tanto a mostar, anos de sensações, opiniões e vontades escondidas. A cada prato Babette descortina pecados e virtudes de seus convivas. Babette perdeu tudo na guerra e vale a pena arriscar tudo que lhe restou por uma noite fazendo o que sabe melhor: produzir sabores. De tão influente (merecidamente) Festa de Babette virou expressão para uma ótima refeição. Uma Trufa de filme.

Tarantino tem cara que curte um hamburgão e cerveja, né não!? 

Para minha Avó comida boa é bacalhau e obrigatóriamente em pratos que caibam quantidade inumanas de comida. E que se repita ad infinitum a pratada.  

25 de maio de 2011

JUPITER MAÇÃ

Fosse o Jupiter Maçã (ou Jupiter Apple) estadunidense ou inglês seria uma lenda cult e influente em todo o planeta no rock tipo o Lux Interior ou Elvis Costello ou Iggy Pop ou Tom Waits. Mas deu azar de cair na terra do sertanejo universitário, do rock bundinha e do samba nada-com-nada. Enfim, poucos e bons o conhecem. Para mim ele se encaixa no mesmo filo de artistas genuinamente brasileiros que abraçam a picardia Macunaíma e o bom humor como nossa verdadeira característica, entre eles estão: o Marcelo Nova, Wander Wildner, Ultraje a Rigor, Raul Seixas. Eles entendem que a piada faz chorar e conscientiza mais que o discurso chato e pronto. E só pela participação lendária dos Cascavelletes no programa da Angélica ele já merecia uma estátua. Ouça!

Vamos começar remexendo as cadeiras com Calling All Bands 


Agora o clip lindão Modern Kid


Que letra! De botar lágrimas nos olhos...Talentoso

19 de maio de 2011

Tiros no Deserto Parte I



"...pois o destino de cada homem é tão grande quanto o mundo que ele habita e contém dentro de si igualmente todas as oposições. Esses desertos no qual tantos foram subjugados é vasto e exige grandeza de coração mas também é no fim das contas vazio. É impiedoso, é estéril. Sua verdadeira natureza é a pedra".
Cormac McCarthy, Meridiano de Sangue.

Poucas coisa são mais preferidas de um historiador que a desconstrução de um mito. A desconstrução de mitos do cinema estadunidense soa como música a um cinéfilo historiador. Agora a desconstrução de mitos históricos expostos há anos no cinema e revistos de tempos em tempos por cineastas capazes de instigar são simplesmente um deleite.
Que o cinema feito na terra do Tio Sam é o de maior prisma temático, de maior qualidade de produção e o terreno das maiores experimentações da sétima arte (não confundir com a produção estritamente hollywoodiana) é notório e sacramentado (pelo menos desde que os cineastas franceses dos anos 50 e 60 perceberam e espalharam a informação). Na minha opinião, as duas maiores contribuições à sétima arte feita pelos estadunidenses foi o Noir e o Faroeste. Desse primeiro gênero trataremos futuramente, vamos nos debruçar sob o segundo. Mas vamos olhar uma fase de revisitação do gênero em momentos que este começava a cair em desuso e depois, mesmo praticamente extinto, insistia em ressurgir nas mãos de alguns realizadores aqui e ali.
Toda revisão na arte tem por objetivo ser analítica e para alcançar com força máxima seu objetivo subverte e acentua características do objeto escolhido num passado do fazer artístico salpicando com toques e maneirismos do artista contemporâneo.
O cinema de velho oeste ou faroeste remonta às primeiríssimas produções da sétima arte estadunidense. Foi extremamente popular em todos os cantos do mundo até os anos 50 e na década seguinte um grupo de europeus deram sua visão para corrida ao Oeste e dai para frente de tempos em tempos surge uma nova leitura da mitologia do Oeste.

To be continued...

Vamos a primeira seleção.

Django - Corbucci, no longínquo 1966, promoveu um banho de sangue e brindou o público com um dos filmes de imagens e enredo mais violentos do gênero. Tudo é assombrosamente crú e exala perversidade. Do andarilho misterioso arrastando um caixão a contagem de pilhas e pilhas de corpos até a violência infligida e perpetrada pelas mulheres à sujeira, os campos enlameados e esvaziados, tudo isso faz parecer que vemos um filme pós-apocalíptico. A empate final no cemitério é uma cena antológica (pelo menos para mim).

Dead Man - Jim Jarmusch quer nos dizer o que é a "América", ou melhor, dizer sobre uma América que ainda não se pensa "América". Não tem como não pensar na Divina Comédia, logo no começo quando William Blake ruma de trem em direção ao Oeste parece que entramos no barco do Caronte. Cenários de genocídios e matanças, não há lugar para inocência Blake será embrutecido e vai andar de mãos dadas com a morte. O p&b juntamente com a guitarra distorcida acentuam as visões dantescas focalizadas por Jarmusch. Há morte em cada fotograma do filme: peles de animais, ossos, tiros, sangue, corte, canibalismo...Imperdível.

Era Uma Vez No Oeste - A cena de abertura, com seus 15 minutos, é uma das minhas sequ~encias preferidas no cinema. Sergio Leone tem uma capacidade sobrenatural de criar imagens duradouras. Assim como as melodias de Ennio Morricone que passam a morar em seus ouvidos depois de ouví-las. A História do Cinema até então se encontra nesse filme de Eisenstein a John Ford, de Hitchcock a Visconti. O filme mais barroco (atente a todos os cenários), surrealista e operístico do gênero. Um verdadeiro épico. A água, a toalha xadrez, o capitalismo vindo de trem, o fim de uma era, Claudia Cardinale no banho e o Cinema de Sergio Leone tem sempre algo haver com a morte. O único filme de Leone em que o eixo dos personagens gira em torno do feminino. O pessimismo contra a profunda admiração e nostalgia de um mundo e um fazer cinematográfico que se foram. Uma experiência contemplativa de plano profundo e belissímos. A violencia é contida, rápida e presente. Poucos filmes deveriam ser considerados obras primas, esse é um que merece.

Pat Garrett e Billy the Kid - O Western mais melancólico e apocalíptico de todos os tempos. Após a sessão ficamos com a sensação de que o mundo já acabou (ou pelo menos aquele mundo). Pat Garrett entendeu que não há mais espaço para velhos fazeres ele que entrar para o time que está ganhado. Finalmente a Lei tem força no oeste e no caminho há Billy the Kid. amigo ou não Garrett quer ficar sossegado em sua cadeira de balanço e não fugindo de muquifo para muquifo nem que para isso seu amigo receba uma bala na cabeça. O último que apague a luz.

Caçada Sádica - Um tratado sobre a masculinidade ferida de um sádico. É isso que Brandt Ruger gosta: ver o sofrimento e a dor nos olhos de suas vítimas e maior prazer é prolongar isso ao máximo. Homens corrompidos em belos vagões decorados e homens virtuosos no meio de bandos de procurados pela lei. Bem violento. Melissa Ruger teve a chance de uma nova vida no dia em que foi sequestrada pelo bando de Frank Calder, mas seu dono/marido é diabolicamente possessivo e o que não pode possuir ele fará de tudo para destruir, pobre de quem estiver na frente. Um filme que não deixa de versar sobre lealdade dos que seguem seu líder numa caçada ou fuga sem perspectiva de volta.

A Proposta - Roteiro de Nick Cave, três pontos positivos. As imagens que estampam a tela por mais cheia de moscas, sujas e poeirentas que sejam são lindamente fotografadas. Qual é a sensação de se viver no fim do mundo? A resposta vem nessa película, pois o bang-bang também rolou na Austrália. Há um clima de passagem do Antigo Testamento, de um Gênesis apócrifo para um novo mundo; um quê de Caim e Abel, Esaú e Jacó, de vagar pelo deserto infinito sem ter terra prometida. O colonialismo cria psicopatas ou só os importa? O bando de Arthur Burns vai atacar sem piedade e violar e destroçar suas vítimas. Aqui, sem exageros, as atuações de todo o elenco são primorosas. Sou muito fã da obra do John Hillcoat. 

Tarantino idolatra os filmes dessa leva. Vamos torcer para que seu filme com o Franco Nero seja destruidor. 

Esse post vai em homenagem ao meu Pai que me legou o maravilhoso hábito de assistir e apreciar um bom Bang-Bang.


11 de maio de 2011

THE (INTERNATIONAL) NOISE CONSPIRACY

Olha, tem o blá, blá, blá  C.A. Marxista chato, às vezes irônico e atraente, mas faz chacoalhar e isso importa mais. São da terra do The Hives, mas por serem avessos ao sucesso viraram um dos esquecidos dos anos 2000. Quem se importa!? Enquanto músicas que falam como o Capitalismo rouba nossa virgindade existirem iremos gostar muito. O Casamento de Strokes e Rage Against The Machine com The Who e The Clash. Situacionismo mesmo. Tenho certeza que o show dos caras deve ser ótimo, bem que poderiam aportar em Terra Brasilis...Os clipes são bem bacanas. Curte ai...

Vamos começar com Up for Sale


Você pode até não saber mas Capitalism Stole My Virginity


E pra fechar com uma pedrada Smash It Up

9 de maio de 2011

Macho Man Parte I


"A violência é a retórica do nosso tempo".
Ortega & Gasset


Ah, os anos 70! A humanidade estava a anos luz do metrossexualismo e do fofuchismo de coraçãozinho com as mãos. Sim foi uma década de glitter, paletós coloridos e sapatos de plataformas e muita testosterona.. Até os homens e mulheres mais assim, digamos, alegres, eram muito machos (que diga quem presenciou a revolta de Stonewall, movimentações de Harvey Milk e seus parceiros de São Francisco e as pernas peludas das DZI Croquetes). Uma década de belos e polpudos bigodes, barbas cerradas e ternos de gosto duvidoso.
Nessa primeira seleção de filmes da década de 70 vamos sentir o cheiro de cigarro, suor e do punho quebrando dentes da cara de um safado. Muitos desses filmes entraram para os anais da produção cinematográfica ou no mínimo viraram cults, e alguns deles estão na minha galerias pessoal de preferidos.
Ainda não tinha chegado o padrão bombado de academia que Schwarzenegger e Stallone e seus genéricos que iriam dominar as telas nos anos 80 e 90. Estávamos  na época que o homem com H se fazia nas ruas em meio as agruras da vida e não em mesas de cirurgias ou tatames depois de derramados rios de dinheiro. Diferentemente da geração brucutu-muito burro-explode tudo dos anos 80 e 90, na década de 70 os machões do cinema se viravam de maneira safa sem ajuda de tecnologias ou de anos de Jiu-Jitsu, era na raça e na bala. Muitos enxergam essas produções como a afirmação da direita republicana boçal e, algumas vezes, estão certos. Mas na sua totalidade encaram a missão de colocarem os maus de um lado e os bons de outro, mesmo que os bons se usem de expedientes questionáveis para ganhar a guerra. Não podemos esquecer que foi nessa época que surgiu uma nova categoria de seres humanos: os psicopatas. O Vietnã, Wartergate assim como nossos anos de chumbo tiraram qualquer inocência e esperança da frente. O visual  dos anos 70 me encanta pelas cores lavadas. Enfim, teremos mais oportunidades de falar de filmes desse gênero e dessa safra...
Vamos a eles.


O Expresso Blindado da SS Nazista - Então vamos lá: um oficial  nazista gritando "Foda-se a SS"; um afro-negão estadunidense com vestimenta completa da Schutzstaffel SS; mulheres germânicas nuas em uma cachoeira atirando com metralhadoras; capitão do exército estadunidense atirando covardemente em compatriotas; um nazista pacifista; resistência francesa "Bastard"; na trilha aberta pelo ótimo Os Doze Condenados e com um toque de Sam Peckinpah. Não a toa você assiste o filme do começo ao fim com um sorrisinho nos cantos da boca. 

Desejo de Matar - Afirmo com todas as letras "O melhor, e mais descarado, final de filme da História do Cinema". Digo mais, uma das películas representantes das falhas geológicas de nossos sistemas iluministas/iluminados (à sua escolha: judiciário, educacional, monetário, religioso...). O que lhe faltou de reconhecimento da inteligentzia crítica cinematográfica sobrou em reconhecimento de público que se sentiu protegido pelo trabuco (no bom sentido por favor) de Paul Kersey. Um filme gelado como a atuação do ícone Charles Bronson. Mas nada do que eu diga pode dizer mais do que o Hermes e Renato disseram...



Perseguidor Implacável - De longe Dirty Harry é o maior Badassmudafucka da História do Cinema. Que filmão. O que começamos a discutir em 2008 com nosso Tropa de Elite os Americans já o faziam desde 71. O legal X o moral. Os Palácios de Justiça nababescos e toda legião de trabalhadores da justiça e continuamos todos vítimas, há décadas, até o Dirty Harry é vítima. O medo venceu. Todos sabemos o que é certo e errado e ai esta o dilema do filme: Harry mesmo querendo tem as mãos atadas para fazer justiça. São Francisco o sonho hippie, o sonho da igualdade sexual e também o lar de Zodíaco. This is America, baby! Inferninhos, becos escuros apinhados de criminosos prontos para te furar, parques encobrindo todos os tipos de devassidão que a noite insiste em revelar. São tantas tomadas virtuosas e visualmente atraentes que te explodem a mente tanto quanto a Magnun de Harry. Dirty Harry e um maníaco...Harry é o que usa distintivo. Eastwood moveu o meridiano da macheza do velho oeste para os perímetros urbanos. Acertou na mosca. Um filme que merece todas as teses.   

The Warriors, Os Selvagens da Noite - Uma narrativa clássica de Xenofonte encravado no período e nas classes mais violentas de Nova York. Desbancou Star Wars das bilheterias e virou cult. Nova York suja, impiedosa e literalmente miserável (muito próximo do cenário real da ultraviolenta megalópole nos anos 70). Acho que um dos fatores que dão enorme charme ao filme é o uso comedido de armas de fogo. Com uma visualidade que excita os olhos Walter Hill se apropria da linguagem dos quadrinhos ao "virar as páginas" com cortes na narrativa. Alias, um roteiro enxuto e ágil e extremamente efetivo. Talvez a grande  luta do filme seja quando os casais de classe mais abastada entram no metrô e dividem a viagem de uma estação com a gangue, são segundos de tensão e de um duelo mental e de classes tenso e sem solução. Resta bater senão o bicho pega, resta bater senão o bicho come. Um dia falaremos mais sobre esse filme. 

Corrida Contra o Destino - É só o melhor road movie da História do Cinema. E digo mais, um dos melhores filmes já feitos na terra do Tio Sam. O sonho acabou: Os Hells Angels pulverizaram Woodstock, o Vietnã acabou com Maio de 68. O Mundo de Kowalski acabou e só lhe sobrou suas anfetaminas e a velocidade. sem motivos nem objetivos, ele está vivo (por enquanto) e é tudo na Infinita Highway. 

Operação França - Antes do GPS, do reconhecimento de DNA, do celular e wi-fi como o policial macho pegava os bandidão? Esse filme te ensina. Antes das correções de photoshop, do CGI, antes dos atores bonitinhos porém ordinários e das explosões gratuitas e irritantes como se fazia um filmaço policial? Esse filme ensina. Já houve tempo em que os grandes estúdios cuidavam de filmes ousados, contextadores e totalmente em sintonia com os assuntos quentes do momento.  Gene Hackman e Roy Scheider que dupla maravilhosa. Cada tomada tira o fôlego mais que a outra. William Friedkin faz questão de te inserir na cidade e nas perseguições abrindo as laterais, levando os atores e veículos para belos sujos e perigosíssimos cenários novaiorquinos. A história de Operação França remete a uma narrativa clássica e cara aos americans Moby Dick (a cena final do filme nos faz enxergar isso...), afinal, Jimmy Doyle está caçando a todo custo sua baleia branca.


Tarantino passa sua carreira a homenagear os filmes dessa geração.


Segundo minha Avó homem de verdade era no tempo do bonde que davam lugar para as moçinha sentar.

3 de maio de 2011

THIAGO PETHIT

Um filho bem nascido da paulistânia. Ele alega soar Tom Waits mas, sinceramente, acho que ele ouviu o The Flying Club Cup do Beirut até furar. Me incomoda a falta de malícia e tragédia de suas letras (muita fofice), nesse quesito o Filipe Catto arrasa. Seus arranjos são muito agradáveis e de uma simplicidade envolvente. A qualidade na produção de seus belos clips, rara na média da produção brazuca, impressiona. Às vezes em francês, às vezes em inglês, às vezes até em português. Só não pode deixar de ouví-lo.

Ah!...(Segundos de silêncio)...Alice Braga...dança, dança vestida da tia Sonia em Nightwalker


Uma música meio fim de tarde e um lindo clip para Essa Canção Francesa


Adoro essa música. Se encontre no belo clip de Mapa-Múndi