17 de agosto de 2010

Musicais que não irritam

O menino e a menina estão na lanchonete conversando. Tiradinhas espertas de um de outro. Pinta o clima. Vai beijar. Ai... O cara sobe na mesa, chuta o hambúrguer e começa a cantar e dançar como se não houvesse amanhã. E não, as pessoas em volta não começam a xingar ou atacar o moleque, eles sobem nas mesas e seguem o mestre. Pois, afinal, no mundo mágico do musical os relógios param e a gente tem todo o tempo para ser feliz e rolar de alegria com nossas vozes afinadas.
Todo mundo tem seu gênero cinematográfico menos apreciado: tem gente que não agüenta tiros e explosões na tela; tem gente que não gosta de câmeras paradas e falas existencialistas; têm outros que não suportam corpos nus e gemidos e tem gente que não gosta de nada filmado fora de países de língua inglesa. Eu, particularmente, me encanto com a arte cinematográfica, toda ela, e muito. Ainda sim, cantar e dançar um enredo é a forma que mais me incomoda na representação. O musical não me impõe respeito como gênero. Óbvio que se não compramos a idéia de uma obra, dificilmente ela terá uma sobrevida para além de nossas retinas. No meu caso com os musicais, eu não consigo comprar, no geral o custo não compensa pelos benefícios apresentados. Não compro, mas experimento. E seleciono algumas peças não tão enjoativas para meu paladar. Mas não vou negar, me diverti com esses filmes.
Preste atenção aos filmes selecionados que amargam um pouco o açucarado mundo dos bailantes. Chute o hambúrguer e dance.

Cantando na chuva – “O” feel good movie por excelência de todos os tempos. E ainda é pouco. Até hoje insuperável em simpatia e mise en scène. E uma das mais belas homenagens já feitas à indústria do cinema.  Meu filme de cabeceira. Mais efetivo que prozac-rivotril-clonazepan. Impossível não acabar a sessão com um sorrisão na cara.





Dançando no escuro – A subversão do cânone. “Nada de horrível acontece nos musicais”, Selma diz. Mas por mais que ela sonhe a vida dela não é um musical, a vida de ninguém é. Uma palavra B-JORK. Belíssima interpretação. Dilacera o coração. As cortinas fecham. Silêncio enfim, silêncio eterno. Quanto tempo demora a cair uma lágrima? O Estado precisa de lenha para queimar, essa lenha são os fracos que o constroem. Esse filme é uma canção triste, a mais triste que você já ouviu.





Cabaré – Amanhã o fim de tudo. Hoje uma noite no Kit Kat Klub. A última chance para amar loucamente, para sonhar com um mundo de luzes e aplausos. Todos sentem que fora do Cabaré o mundo começa a cair. Mas whathell, life is a cabaret!!! Liza Minelli linda, linda no papel de sua vida. E Joel Grey, então!?





O Show deve continuar – Bob Fosse de novo. O réquiem de uma geração. O fim dos loucos anos 60-70. O show não pára, nem quando a vida pára.  Os fascinantes bastidores dos musicais. Um belíssimo último ato. Roy Sheider brilha no último numero uma bittersweet symphony arrepiante.







Across the universe – Bem...Beatles. Difícil errar. Os números interpretam com simpatia e criatividade as músicas dos ingleses. E como diria o impávido José Wilker: “É um filme jovemmm, um elenco jovemmm, um figurino jovemmm. Um belo filmeee”.





Todos dizem eu te amo – Um musical com grife. O Woody presta sua homenagem desbragada ao gênero sem sair nem um milímetro de seu próprio estilo. E é inegável o quanto os números musicais diminuem a força da película, chegando a envergonhar, como no numero do velório. Mas as características da marcas WA estão lá: ironia pipocando; Nova York linda; desamores; erudição e a neurastenia encantadora de Woody Allen em seu eterno papel. 





Fred Astaire e Ginger Rogers sapateiam em nuvens brancas por esses filmes.


Tarantino não curti musicais...

Minha Avó acha lindo, mas dorme na segunda música.

6 de agosto de 2010

Sangue, niilismo e lágrimas

A lâmina fende a pele. Do pescoço jorra o viscoso líquido vermelho. O sangue abre rios e afluentes no chão. O terror francês. E nem estamos falando de 1794 e dos partidários da Montanha. Na ultima década os conterrâneos de Gainsbourg, De Gaule e Carla Bruni, fizeram um estrago no mundo do cinema levando seus espectadores a experiência excruciantes ao exibirem filmes de horror para Dario Argento nenhum botar defeito.
O cinema de horror (junto com o pornográfico) é o que move mais fácil e rapidamente os instintos de quem assiste e as manifestações físicas abundam. Talvez daí venha a assiduidade dos fãs e a curiosidade dos espectadores ocasionais. A maioria esta em busca de sensações inacessíveis ao entrar na sala do cinema, mas com o passar dos anos os realizadores do cinema tem rompido barreiras cada vez mais duras. Fica mais difícil infringir dor e pavor a uma platéia cada dia mais cínica em relação ao mundo (até porque a concorrência com os jornais diários , no quesito sanguinolência,  esta bemmmm acirrada). Esse cinema de horror Frances, que francamente merece uma classificação própria como o Giallo ou o J-Horror, tem uma pretensão mais popular e se encaixa mais no Torture-porn estadunidense (popularíssimo, diga-se) do que em experiência terminais, e porque não, doentias como Aftermatch.
Vamos aos filmes mais interessantes dessa leva (esqueça filmes como Sheitan, Humains e La Horde). Repare em temas comuns: a invasão do lar pelo terror que vem de fora; não há misticismos, o que assombra é obra de seres humanos e os mortos ficam em seus estado eterno...mortos; os cortes são frenéticos como já nos acostumamos após alguns anos de Youtube; as principais vítimas do horror são mulheres e quem as aflige são em sua maioria mulheres; ao subir os créditos não há alívio, esses diretores frizam sua desesperança do começo ao fim da película.

Eles – Não há inocência, não há. Quantas brincadeiras não acabam mal, ahn? Quantas? Molecagens levadas às últimas conseqüências. Os fatos são reais mesmo. De tempos em tempos você ouve falar: eles só queriam brincar.

Mártires – Tá bom. Se ao final da sessão você não estiver em frangalhos é bom se preocupar, desvio de caráter é preocupante. Poucas vezes se chega a todas as possibilidades dentro de um gênero, esse filme ultrapassa-as, e por vezes chega a resultados... sublimes!?

A Invasora – Parece até título de novela mexicana. Mas aqui a mocinha não vai sofrer pela traição do Fernando Augusto. Os cortes na carne não serão simbólicos e a trama da vilã louca e invejosa só vai despertar risos nervosos. Não, na boa, você vai sofrer de verdade e muito com o que vai ver nesse filme...

Fronteiras – Certo, é um Massacre da Serra Elétrica piorado. É o mais esquemático da lista. E então, por que vê-lo? Bem, tem mortes horríveis a rodo, neonazistas massacrados, situações humilhantes para um ser humano...Enfim, um prato cheio...

Bônus

O Adversário – Ok, ok esse não é bem um filme de terror e tal. Mas não deixa de ser uma história aterradora e um bom filme. A diretora pesou a mão ao construir a trama, poderia ir mais rápido aos finalmentes. Ah sim, a presença de Daniel Auteuil sempre preenche a tela com louvor.

Minha Avó acha que isso tudo é coisa do Demônio e que o mundo tá no fim mesmo...

O Tarantino não dorme bem depois de ver esses filmes, mas o ursinho Teddy o protege.

Dario Argento dilata as pupilas quando vê Mártires.