30 de setembro de 2010

Gótico Chic Parte I

Que a noite é muito mais interessante que o dia todo mundo sabe. Alguns hão de concordar quanto ao frio despertar nos corações as mais belas odes à melancolia e às vidas perdidas (que, convenhamos, é a forma mais elevada de arte). Tudo me atrai na estática gótica, e em todas as suas manifestações: a vitória da sombra, as texturas de tecidos grossos, os cenários vazios, as estranhezas dos sons, os gritos no escuro, a pele que desconhece o sol, os acordes menores, as estranhezas visuais que resvalam no psicodelismo. 
Nenhum texto ou explicação dariam conta dessa corrente tão persistente que há décadas e décadas encanta e espanta. Essa estética que nasceu romântica em recantos ingleses e alemães no século XVIII veio instintivamente mostrar a perplexidade de alguns seres humanos em face de um mundo cada vez mais afastado da natureza e da própria humanidade. Homens enterrados em fábricas imundas e muquifos cinzas: sem passado, sem deuses, sem sabores ou toques afáveis, esperando a morte para aliviá-los. Só mesmo uma estética de trevas e lamento poderia testemunhar à posteridade sobre um mundo que foi tomado por brumas. Será que atualmente conseguimos ver o sol? Acho que temos o céu parcialmente nublado.
Obviamente que a sétima arte não poderia deixar de prestar homenagem e emprestar soluções de arte gótica para se constituir. Dos primórdios até hoje o cinema se rende aos castelos abandonados e estranhos, aos casacões pretos, aos bosques desfolhados e ao sangue no canto dos lábios. Vamos então a uma primeira seleção de películas fiéis ao espírito do Castelo de Otranto e que deixaria Augusto dos Anjos com o peito doendo de tanta alegria e pesar. Vamos lá, mate as horas de monotonia com esses filmes, antes que as horas te matem...

A Queda da casa de Usher – Vai se ferrar, assustador demais. Epstein deve ter feito os pelos de todos seus espectadores eriçarem. O clima é soturno como nunca vi igual. Cada aparição de Roderick e Madeleine faz o coração descompassar. Os cenários te fazem sentir apavorado com a eminência de um mal que nunca vem. Gostei muito das atuações mais naturais saindo do lugar comum para quem reclama de exageros nos filmes mudos. O silêncio desse filme grita em seus ouvidos. Edgar Allan Poe derramaria uma lágrima por ele, se pudesse...

O Médico e o Monstro – O cenário mais clássico para uma estória gótica é a Londres vitoriana. Nada mais cinza, opressor e solitário. A cena inicial é antológica, bem como as divisões de cena para acentuar as dualidades dos personagens. Essa versão é obrigatória pela atuação de Frederic March e por todo peso trágico que o final da narrativa carrega.

Gothic – Talvez muito luminoso para estar nessa seleção. A narração delirante de um encontro dos pais da cultura gótica. Um grupo isolado do mundo que em seu exílio irá desafiar todos os pilares de sua cultura. Nesse caminho tortuoso serão tutelados por um Lorde mais experiente. Gabriel Byrne faz um Lord Byron muito vampiresco e pouco trágico, ainda sim um monumental personagem. As tragédias da vida real sempre superam a tragédia na arte.

Drácula, de Bram Stoker – Um elenco mais reluzente que diamante com Tom Waits, Winona Ryder e Monica Bellucci. È para estender o tapete dourado. O personagem mais clássico da escuridão mostrado, dessa vez, em sua faceta mais trágica e apaixonada (termos sinônimos, afinal). O que seria do relato gótico se não fossem as maldições seculares e a paixão como motor que ruma para a morte? Gary Oldman faz da primeira aparição do conde, após a maldição, algo que gela a alma.

A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça – Não é o melhor Tim Burton (Ed Wood sem dúvida o é), mas está entre os três melhores fácil. Já reparou como os filmes “coloridos” dele tipo Alice e Marte Ataca! são os piores. A musa dark Christina Ricci faz sua aparição um tanto quanto apagada (fantasmagórica até), mas a simpatia de Jonnhy Depp não te deixa desarmado para enfrentar o cavaleiro. Christopher Walken espetacular sem pronunciar uma palavra. Uma preciosa homenagem aos filmes dark do passado banhado em sangue espesso e brumas. Imperdível.

O Morro dos Ventos Uivantes – Quem nunca foi assombrado por um amor do passado que insiste em não morrer? Desse que te leva inexoravelmente para a ruína. Ah, o desespero que a ausência gera. Sentimentos em estado brutos isolados geograficamente para explodir e aquietar. A versão escolhida é a que carrega a atuação primorosa de Tom Hardy e pelo clima que a reprodução de época que essa versão apresenta.

O Lobisomem – Um filme gótico clássico. Do visual de sombras bem cuidadas e um cenário gelado inglês, obviamente, à narrativa da maldição a das cicatrizes acumuladas por amores mal resolvidos. Com uma pitada de gore que agrada e muito o público atual. Benicio Del Toro faz um lobisomem realmente assustador.



Tarantino é um cara da Califórnia, ele gosta de biquínis e praia...

Mas aquele moço é um vampiro? 
É sim Vó.
Vampiro é coisa de Satanás, você sabe disso, né!?
Sei sim vó, sei sim.

2 comentários:

  1. Cara, curti d+, ótimo blog, até agora só coisa boa, não perde a mão .....hehehe
    Sério, muito bom,já estou seguindo. Quando tiver um tempo passa no www.emcapsulas.blogspot.com abraço

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