6 de outubro de 2010

Em defesa do Camp

Num período cenozóico (quando existia a TV Manchete, quando mandávamos cartas, quando aparecia mulher pelada e violência na sessão da tarde, quando aprendíamos as primeiras operações matemáticas na escola com um Ábaco) essa simpática série passava depois da novela das oito às terças-feiras na TV Globo. Nesse período de hominídeos em que deuses andavam entre nós não havia TV a cabo ou internet, portanto, só restava a chance única de assistir preciosidades nos canais abertos. Talvez, por isso, os programas  se tornavam tão memoráveis.
Claro, há de se levar sempre em conta que na ultima década a HBO criou um padrão de seriedade, qualidade e, porque não, de atrevimento e inovação no tratamento dado aos seriados com LOST e 24 Horas vindo a reboque e espalhando esse paradigma para quase todos os outros seriados da TV estadunidense. Para espectadores encubados nesse padrão, produtos antigos como The Flash parecem inalcançáveis (com perdão do trocadilho) e insuportavelmente datados. Estão lá as atuações canastronas, o figurino capaz de envergonhar qualquer um com senso estético, os argumentos manjados, as risadas em uníssono no final do capítulo e os vilões descerebrados. Mas há de se tratar essas peças com maior carinho e paciência.


Tirando o fato de se tratar de um dos personagens mais interessantes em poderes e design de uniforme da História dos quadrinhos. Nas mãos de Gardner Fox, The Flash tirou os quadrinhos da cultura pulp e expandiu suas fronteiras ao infinito com a ficção cientifica.  Essa característica é representada belamente no seriado com viagens temporais, realidades alternativas, laboratórios kitsch de cientistas loucos e andróides. O seriado The Flash vem de uma tradição camp que remonta aos seriados de aventura dos anos 40 e 50 como Capitão Meia-Noite, Superman até o eterno Batman de Adam West nos anos 60. Nesse sentido, é um seriado que além de prestar homenagem a um gênero reinventa-o para sua contemporaneidade. E por falar em Batman, o filme do Tim Burton tinha acabado de implodir bilheterias por todo o mundo e os produtos da DC Comics se investiram da aura de Gotham City. Não a toa, a Central City defendida por Barry Allen tem os mesmos becos escuros e neons da cidade de Bruce Wayne. Já que estamos no campo das citações não podemos deixar de lembrá-las: vão de Laranja Mecânica (quando os punks espancam o velhinho) à Apocalypse Now; de O Sombra à Exterminador do Futuro.


Um prato cheio para quem gosta de cultura pop. Um prato fast food  cheio de conservantes, mas cheio e delicioso.



Tarantino adoraria dirigir um episódio em que Flash tem uma perna arrancada com um facão...


Minha Avó nunca ficava acordada para assistir a série. Perdeu...  

Nenhum comentário:

Postar um comentário