1 de abril de 2011

Stanley Kubrick:Diretor Fantástico



I have a wife, three children, three dogs, seven cats. I'm not a Franz Kafka, sitting alone and suffering.

Eu não me lembro direito quando conheci Kubrick. Talvez tenha sido numa madrugada da Globo passando 2001, talvez tenha sido quando minha mãe alugou De Olhos Bem Fechados (e eu tentei ver um pouquinho em VHS, porque na época não tinha idade pra ver estas coisas), talvez tenha sido quando meu pai, que traduzia um livro de cinema, assistiu Laranja Mecânica ou Doutor Fantástico. Sempre tenho dificuldade em lembrar como comecei a gostar de coisas das quais acabo me tornando fanática, mas vamos lá.
Sempre gostei da definição de um amigo para 2001 – Uma Odisséia no Espaço. 2001 é o filme chato mais legal que existe. E o Kubrick é assim, torna filmes chatos legais. E filmes legais, incríveis!
O que eu mais admiro em Kubrick é a sua capacidade de navegar por diversos gêneros (ficção científica, noir, drama, épico, comédia, terror...) e tornar cada filme seu (com raras exceções) seminal. Vai dizer que quando você começa assistir uma ficção científica, não pensa em Kubrick, em Hal, no monólito e Strauss. A primeira coisa que pensei quando comecei a assistir Lunar, do Duncan Jones ou Sunshine, do Danny Boyle foi: Paaatz, que falta de criatividade! Vai copiar 2001 na cara dura mesmo? Ainda bem que me enganei e estes caras são bem criativos!
Meu tesouro mais precioso relacionado ao Kubrick é um maravilhoso livro da Taschen. O “The Stanley Kubrick Archives” (http://www.taschen.com/pages/en/catalogue/film/all/00301/facts.the_stanley_kubrick_archives.htm). Custou uma grana, tive que dar uma chorada para comprar (na época era uma garota que ainda não pagava suas contas), mas valeu e ele tem um lugar de destaque na minha coffee table, ele merece.
Bom, como sou convidada neste blog, vamos ao que interessa.
Kubrick em sua melhor forma. (O meu) Kubrick essencial.



O Grande Golpe (The Killing, 1956)

Come on, clown, sing us a chorus from "Pagliacci"! 

Você achando de Onze Homens e Um Segredo é o máximo? Think again. Em seu terceiro longa Kubrick já nos brinda com um puta filme que, aliás, o alçou para o sucesso! A história gira em torno de um grupo que bola um plano para assaltar o cofre de um hipódromo e é contada de uma maneira não-linear. O plano (como todo plano enquanto é só um plano) é perfeito. A gangue é composta por todo tipo de gente e como em todo bom filme noir, são as mulheres que botam tudo a perder. A última cena é de cortar o coração, daquelas que faz a gente ter pena do bandido!





Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964)

Gentlemen, you can't fight in here! This is the War Room.

Adoro Peter Sellers! Sabe quem disse isso? João Kleber! Sim, aquele dos testes de fidelidade e das pegadinhas infames. Se ele disse isso, quem sou eu para questionar? Esta bela comédia de humor negro tira uma onda com a tensão nuclear causada pela Guerra Fria tratando de um possível ataque nuclear em massa de B-52s sobre a União Soviética. Peter Sellers arrasa em três papéis, incluindo o do Dr. Fantástico, um especialista em guerra nuclear preso a uma cadeira de rodas e com uma mão que tem vontade própria. Boa parte da ação se passa na Sala de Guerra, um lugar onde não se pode brigar. Kubrick só errou em uma coisa. Cortou a cena final, onde Peter Sellers e George C. Scott acabavam cobertos de creme.





2001 – Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odissey, 1968)

Just what do you think you're doing, Dave? 

Ou o melhor filme chato já feito. A primeira vez que assisti 2001, achei que não chegaria ao final. O que me animava era a perspectiva de chegar à última parte (Jupiter and Beyond) e ouvir Echoes do Pink Floyd. Eu simplesmente perco as palavras para falar deste filme, que com poucas falas, diz tanta coisa. Pouco importa o que significa aquele monolito, o quarto branco ou o bebezão. O importante mesmo é que Kubrick conseguiu criar um visual impressionante, que pode ter servido de inspiração para programas espaciais e um dos vilões mais sinistros da história do cinema. Uma simples luzinha vermelha que atende pelo nome de HAL9000.





Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971)

I’m siiinging in the rain, Just siiiiinging in the rain...

Uma casa com uma placa na entrada onde se lê “Home”, Alex e sua trupe barbarizam um casal ao som de uma das músicas mais leves do mundo. E é ai que está a graciosidade de Laranja Mecânica. A história de um delinqüente juvenil líder de uma gangue que leva o terror por onde passa, mas que é fã de Ludwig Van, uma transa ao som de Guilherme Tell e Moloko. Sempre acabo simpatizando com ele com aqueles grampos nos olhos, chegando em casa e descobrindo que seus pais têm um novo filho... Alex é, sem dúvida, um dos meus vilões preferidos da história do cinema, ainda que no fim eu sempre me pergunte...será que ele é mesmo um vilão?





O Iluminado (The Shining, 1980)

All work and no play makes Jack a dull boy...

Terror nos corredores do Overlook! Jack Nicholson e Shelley Duvall!
Baseado em um livro de Stephen King, Kubrick montou esta pérola do terror. Com uma ou outra cena graficamente aterrorizantes (o urso no quarto, a velha no banheiro, o sangue jorrando dos elevadores), talvez seja o avesso disso, a calma do cenário e dos personagens que ao longo da história vai se transformando em loucura ou apavoramento que torna o filme tão aterrorizante. Jack Nicholson está impecável. Vive naquele hotel como se já o conhecesse há tempos, conversa com pessoas no bar, no banheiro, vaga pelos corredores, e fica em sua máquina de escrever digitando infinitas vezes a mesma frase com a maior calma do mundo...até que no final...Heeeeeeeeere’s Johnny!





De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, 1999)

Please, step forwards. May I have the password? 

Sim, eu gosto deste filme. Sim, tem o Tom Cruise e a Nicole Kidman. Sim, tem quem pense que o Kubrick já estava gagá quando pensou nisso. Mas para mim, este filme é muito bom!
A história é meio esquisita...tudo vai indo bem até que Cruise e Kidman fumam um cigarro de maconha e começam uma conversa um tanto sem pé nem cabeça, que leva Cruise a sair perambulando por Nova York até encontrar um antigo amigo, que fala de uma festa estranha com gente esquisita que rola nos subúrbios da cidade. Ele chega paramentado, com a senha, mas de táxi, o que pode ter entregado que ele não devia estar ali. Yada yada yada, tudo volta às boas e em uma loja de brinquedos, o casal decide que a melhor ideia é fazer sexo. Um filme com um visual incrível e muito mistério, que não necessariamente tem que ser resolvido para que o filme possa ser apreciado...




Veredito: Tarantino assistiria?

É o próprio quem responde:
Tarantino is not, in general, a great fan of Kubrick--he finds Kubrick's films too cold, too composed. Still, he will say that the first twenty minutes of "A Clockwork Orange" are as good as moviemaking gets.
"That first twenty minutes is pretty fucking perfect," he says. "The whole non-stop parade of Alex and the druids or whatever they were called: they beat up a bum, they have a gang fight, they go to the milk bar, they rape a girl, they break into the house, and they're driving and playing the Beethoven, and Malcolm McDowell's fantastic narration is going on, and it's about as poppy and visceral and perfect a piece of cinematic moviemaking as I think had ever been done up until that time.


Guest editor: marjorie cohn
fã de ultraviolência cinematográfica, construtivismo, tv aberta e peter sellers.


Vó, dúvido você falar Kubrick...
Falar OQUE!?!?!? (Diz ela horrorizada)
Ku-bri-ck...
Ma que que é Ku-bei-q???
Só fala, Vó: Ku-bri-ck...
Ku-bei-q...É assim!?
....É assim mesmo Vó...

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