3 de dezembro de 2010

A Grande Arte da Austrália

Nem só de Crocodilo Dundee e Mad Max vive o cinema australiano. Na terra das pessoas loiras rosadas e do coala faz-se um cinema de muita qualidade, nervoso, calorento e orgástico. Mais que estilo visual (este sempre mediado pelas cores quentes do deserto) salta na tela a força de enredos nervosos que extrapolam a ferocidade da natureza demonstrando que há pouca coisa mais destruidora que as ações desmedidas dos seres humanos. A filmografia que nos chega desse país não deixa de refletir a estranheza sentida pelos seus antigos colonizadores que, diferentemente dos colonizadores do continente americano, não optaram pela miscigenação e integração mais orgânica com o território e se encastelaram em suas fortalezas de Sydney, Melbourne e Adelaide. 


Houve um boom de produção cinematográfica nos anos 70 e 80 que resultou em filmes absolutamente incríveis e muitas pornochanchadas (que também são incríveis). Foi um período de experimentações amalucadas e de produções de orçamentos modestos e de pretensões gigantescas, abrindo assim as cortinas do cinema australiano para o resto do mundo. Vamos lá, uma seleção de fitas de um país com belas garotas e belos filmes. Deu vontade de correr para o Outback...


Ghosts...of the Civil Dead – Sabe o lugar nos fundos da terra que Dante e Virgílio resolvem conhecer? Então, nessa película iremos conhecer um lugar pior. Com certeza os criadores de OZ assistiram até dizer chega esse filme, até o design dos pátios internos das detenções se parecem. Nick Cave está incrivelmente assustador, um psicopata infernal. Esse filme faz Carandiru parecer um filmete da Xuxa, no máximo. Uma reflexão incrível sobre o encarceramento da fúria e podridão de nossa sociedade. E pensar que a Austrália nasceu como colônia penal.

Reino Animal – Uma matilha de predadores acuados. Um leão ferido na savana percebe os abutres se aproximando em espiral. Não sou dado a palavrões, mas este é um puta filme. Imperdível. Tadinhos, eles tem família, se amam, mas é a selva amigo, eles te matariam na primeira oportunidade, é a lei, a falta dela.  A família dos Metralhas do mal, que sorriso apavorante da matriarca. Todo primeiro mundismo tem seus enjeitados armados e furiosos nos subúrbios prontos a disparar. Um dos grandes filmes do ano.

Candy – James Dean foi lenda desde sempre. Eu era criança para entender o caso River Phoenix. Já o Heath Ledger me pegou em cheio. Para mim o melhor ator gringo da primeira década de 2000. E antes de anarquizar Gotham City ele esteve nesse tocante e desesperador conto sobre um amor desfacelando. Junto à lindíssima Abbie Cornish entramos nesse furacão poético cheio de amor, angústia e autodestruição. Tocante e imperdível pela presença sempre imortal desse ator.

Skinheads, a força branca – Não é dos grandes filmes de neonazistas, mas é interessante. Russel Crowe começando na carreira representa bem toda a carga de ódio a tudo e todos perpetrada ao público por esse “movimento”. Um filme sobre a ruína dos estilhaçados, e tem mulher no meio, sempre tem. Não dá para odiar sem parar, os carecas também sofrem de amor. Um grupo de intolerância em países formados por imigrantes tende a extinção nos confrontos diretos. A suástica é admirada por muito poucos, e guerra é numero.

Além de Hollywood – Um ótimo e surtado documentário sobre a época mais prolífica do cinema australiano: de pornochancahdas a cruéis filmes de monstros. Um período de liberdade total de idéias, mas nem tanta liberdade na execução e exibição, que viriam a influenciar realizadores em todo o mundo. Vale muito assistir esse documento sobre uma produção artística praticamente ignorada.

Walkabout, a Longa Jornada – Quer assistir um filme para mudar sua vida? É esse. Brutalmente inteligente pelos detalhes deixados na tela mesmo com um enredo aparentemente simples. Não adianta, a presença do ser humano modifica tudo e todos a sua volta, e a recíproca é verdadeira.  E se se parar para pensar os vales que separam as tribos nem são tão grandes assim. Lévi Strauss já havia pensado nisso. Não, para algumas pessoas é um vale intransponível. Mas o contato molda que o diga o rapaz aborígene cheio de testosterona e a garota da cidade cheia de não me toques. Ambos são corajosos. E no futuro ambos saberão que a distância que os separaram não é natural. Mas é o que se tem para hoje.

Wolf Creek, Viagem ao Inferno – Talvez, depois de ver esse filme, você perca a vontade de visitar a Austrália. Bobagem, todo país que se preze tem seus psicopatas. Um terror com estilo visual acentuado, nem chocante e nem inerte. Mas eu continuo odiando esses personagens desprovidos de inteligência que abundam fitas do gênero e são tão facilmente exterminados. Vamos dizer que seja a versão evil de Crocodilo Dundee.   

Tarantino é fã declarado do cinema australiano. No A Prova de Morte rola até uma homenagem ao Wolf Creek...

-Olha que bonito o Canguru pondo o filhotinho na sacola. Deus faz tudo perfeito mesmo, o homem que estraga.
-Estraga mesmo viu Vó. 

Um comentário:

  1. Muito interessante a lista. Já tinha ouvido falar coisas boas sobre Candy. Os outros parecem ser bons também.
    Parabéns pelo blog. O título me fez rir. É o que eu penso a respeito dos filmes que vejo. "Minha avó acharia condenável".

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