20 de junho de 2011

SABOTAGE

Falar de clichês, evidenciar, denunciar clichês, etc., no mundo das artes hoje se tornou clichê. O termo “clichê”, aliás, banalizou-se de tal modo que é um dos maiores clichês em qualquer crítica que apareça.
Certa vez, há uns dez, onze anos atrás, quando eu estudava violão erudito na saudosa ULM, encontrei-me com o saudoso Sabotage numa Kombi lotação da Vila Mariana – Jd Clímax. Ele trajava calça big jeans azul escuro, camiseta larga e dois olhos de uma noitada inteira de show, seja lá o que foi isso. Tudo muito clichê. Eu trajava alguma coisa anônima, mas estava acompanhado de meu saudoso DiGiorgio nº18 Estudante, além das apostilas de Matteo Carcassi e de Henrique Pinto.
Não por acaso, sabia que ele havia participado dos trabalhos de umas bandas de Hip Hop Gospel por ai, que na época estavam num bom caminho – no sentido musical, é claro – mas que hoje paradoxalmente se desvirtuaram. Disso veio minha indagação, provavelmente muito clichê, a ele na lotação:
– Sabotage?
– Isso ai.
– Uma pergunta só: você pretende fazer mais trabalhos com o pessoal do APC16?
– Os manos fazem uma coisa diferente né... Se eles chamarem, tamos ai.
Depois disso ele pediu pra descer.
Tempos depois, a notícia fatídica. Acredito que seu rap era tão verdadeiro, real e intrínseco a ele que de alguma forma teve de se cumprir...
De lá pra cá a cena Hip Hop se consolidou, e muitos desde aquela época já a acusavam de um grande clichê: o antagonismo entre ricos e pobres, opressores e oprimidos, os Jardins e a “perifa”. Sabotage, então, poderia figurar como um dos expoentes desse clichê: “Brooklin Sul”, “Canão” “Rap é o som”, etc., termos e temas tão repetidos por ele em seus versos...
Quase ia me convencendo de que, de fato, o Hip Hop havia se tornado artisticamente uma invariável expressão de clichês, quando me lembrei do que dizem por ai, nos corredores da academia, que qualquer manifestação da existência, para ser compreendida, pode ser dividida em três partes. Pois bem, poderíamos hoje enxergar a cena Hip Hop nacional em três fases: a 1ª nada mais é que seu primórdio, um rap de versos inocentes de P de Pepeu, Ndee Naldinho, e amadurecendo um pouco mais com Thaíde e tantos outros; a 2ª, nos anos 90, beirou a apologia cabal ao crime, mas paradoxalmente foi remida por versos “racionais”, mas que traziam a pura poesia bruta das ruas; a 3ª é a cena que temos hoje, representada pelos versos maduros de Criolo Doido, Emicida... Sabotage representou tão bem a poesia bruta daquela 2ª fase que seu nome é freqüentemente rimado nos versos desta 3ª...
Por fim, para remir de uma vez por toda a cultura Hip Hop, eis que surge uma luz no fim de um túnel ainda não escavado pelo glorioso Tatuzão: o Metrô que sairia da Brazilândia e passaria pelo Higienópolis (!!!), traria à este último a “gente diferenciada”, e manifestaria a verdade, não despretensiosamente taxada de clichê, dos versos e da atitude representados pela cultura Hip Hop. Aliás, se Sabotage fosse vivo, ele diria: “– num disse!”, e faria um rap sobre isso tudo.

Sai da frente!


Porque respeito é pra quem tem!


E pra não deixar de lado o clichê, eis o clássico dos clássicos de Sabotage, e um clássico do rap nacional... quem vê da ré:


E agora com vocês, “...representando a favela no cinema nacional...”: Sabotage.

O Invasor

Tiagão, diz pra sua avó que, segundo Sabotage, interpretado por Sabotage no longa O Invasor, quem “tá desgostoso da vida é porque não curte um rap”!


Carandiru

Tiagão, jamais deixe sua vozinha ver os beijos que Sabotage deu na bunda de Rita Cadillac no filme Carandiru, principalmente se um dia lançarem Carandiru em 3D... Já imaginou sua vovó assistindo essa cena em 3D, vendo os cabelos espetados do Sabotage e o trambolho traseiro da Rita?!


Wesley Soares

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