10 de junho de 2011

A Grande Arte da Coréia do Sul Parte II


Não é que eu seja suspeito, me declaro culpado de pronto. A possibilidade de eu gostar de um filme sul-coreano é de 96,7%.
Me intriga e faz estimar a completa falta de fé dos sul coreanos na criação, manutenção e na execução da lei. Insistentemente esses realizadores mostram a falência de seus sistemas (escolha um da sua preferência) e jogam na cara do espectador seus pessimismos em relação as sociedades que suportam tão bem assassinos em série (escolha o tipo de sua preferência) contanto que se tenha lindas TVs de LED e Tablets.
Me agrada o fato de darem poucas chances às redenções em seus roteiros. Destacam a violência contra a mulher, a degradação das classes esquecidas, as feridas deixadas pela guerra que cindiu a península, a pobreza que persiste apesar do desenvolvimento na educação e tecnologia.
Acredito que esses realizadores promovem o cinema pós moderno mais interessante dos últimos anos. É como se tivessem entendido melhor que ninguém os cem anos prévios de História do Cinema e amalgamando os melhores elementos entregassem ao público um produto extremamente atraente. Não a toa a produção nacional sul-coreana é extremamente bem sucedida internamente batendo qualquer produção do exterior.
Não me interessa nacionalismos mas bons resultados e há um entendimento mútuo entre cineastas e público na Coréia do Sul que gera um cinema artisticamente dinâmico e comercialmente bem sucedido. Um belo casamento.
E já faz algum tempo que o eixo das produções cinematográficas verdadeiramente excitante  moveu-se ao oriente (vide o retrógrado prêmio da Acadêmia estadunidense ao Discurso do Rei e a defesa do filme por boa parte da crítica de veículos de comunicação tradicionais nos EUA - não a toa o direitistmo paternal cresce no primeiro mundo, sinal dos tempo: as pessoas estão querendo voltar a ser súditas).
O Mundo tem muita coisa boa para descobrir. Descubra...e me conte.

Eu Vi o Diabo - É isso ai, os homens que não amam as mulheres estão por todo o canto desse planeta e fazem um estrago...Eu pensei que Philippe Nahon, Anthony Hopkins ou Kevin Space soubessem fazer psicopatas mas na real eles precisam fazer um workshop de atuação com o literalmente monstruoso Min-sik Choi. Para olhar os olhos do diabo não é preciso descer ao inferno, você cruza com ele nas ruas e nem dá bola, mas ele está ai sangrando o mundo. Aqui você tem que se posicionar. Mocinho e bandido vão inflingir o máximo de dor possível um ao outro. Um deles machuca aleatoriamente quem estiver em seu caminho o outro vai machucar com método, com objetivo. Um é vingança pura, o outro é uma abominação. Um filme bem forte. Posicione-se.

O Homem de Lugar Nenhum - E para fazer um trhiller policial daqueles, como faz!? Coloca na mistura Dirty Harry, Maquina Mortífera, uma pitada de filmes do Charles Bronson, os filmes do John Woo na fase chinesa e O Lobo Solitário e dê nas mãos desses maravilhosos sul-coreanos cheios de estilo que irás ter um filmaço de ação como há muito não se faz no Ocidente. O bandido é bandido e o mocinho é mocinho (independente dos métodos que ele use para combater a vilania) e nada de maniqueísmo  para atrapalhar a trama. É pancadaria bem construída, envolvente, deliciosamente gratuita. Se Jeong-beom Lee continuar nessa toada vai ser o grande nome do thriller policial dessa geração.

Primavera, Verão, Outono, Inverno...E Primavera - Está ai um filme que a senhora classe média não vai nem achar que entendeu. Claro, há o crítico que acusa o filme de ser absurdamente bonito, culpe as locações. há o criticuzinho que o acusa de ser poético, o que demonstra que lhe falta conhecimento sobre poesia por achar que ela serve para cantar os lírios do campo. E a o criticuzão que pensa conhecer profundamente dois mil anos de tradições e vertentes budistas e o acusa de reducionismo e para gringo entender de Siddhartha Gautama. Apesar de qualquer crítica à película ( a minha vai para o desnecessário ato final com a criança repedindo os erros de seu antecessor) a experiencia de assistí-la é imprescindível e no mínimo compensadora.

Zona de Risco - Malditas linhas desenhadas para nos cortar ao meio. Malditas fardas e coturnos. Malditas bandeiras. Os quatro soldados, como na letra de David Bowie, tentaram ser heróis por um dia. Por mais forte que fosse a amizade entre eles seus uniformes os separariam para sempre. A Ordem a que servem esmaga quem não cumprir os protocolos. E no castelo cenográfico e altamente explosivo que é a fronteira entre as Coréias qualquer desculpa é motivo para hecatombes. O século XX sacramentou a invenção de disputas territoriais que parecem ser milenares, mas são tão recentes que caíram no esquecimento. E azar de quem descobrir que está sendo enganado. O melhor filme sobre guerras frias que eu já vi. 

Poesia - ...a mãe de todas as artes. Dela parte toda beleza que a humanidade pode sonhar em produzir. E você, já olhou para o mundo? Ou é daqueles que perambula pelo globo sem enxergar nada? A Senhorinha Yang Mija é demasiadamente humana: está doente, endividada, percebe que o abismo entre ela e o neto é intransponível e se deu conta de que nunca se comunicou de verdade com o mundo. Seu cais de porto será a poesia que lhe cruza o caminho. Um filme fruto do minimalismo oriental com planos fundos, com relacionamentos examinados pelo não dito, atuações discretas com ecos dos trabalhos de Yasujiro Ozu. É muito mais que isso, assista e belezas que você nem imaginava irão emergir.

Eu Sou Um Cyborg, Mas Tudo Bem - Em seu trabalho mais impactante visualmente (tanto na movimentação de câmeras quanto na direção de arte, cenográfia e figurinos). Chan-wook Park nos brinda com uma comédia! romântica? coloridíssima e deliciosa. Cruzando Um Estranho no Ninho com Spike Jonze/Michel Gondry no País das Maravilhas, Park nos da um história para montar da menina Cha Young-goon que para qualquer um seria incompreensível mas para o menino Park Il-sun que perambula com ela por esses labirintos de um Instituição de Saúde Mental é fácil de solucionar. Em até certo ponto um filme terno em mostrar como em momentos e lugares improváveis belas relações (escolha a de sua preferência) surgem.  

Tarantino sabe o que é bom e já faz tempo que vem alardeando a todos sobre esse Cinemaço.

Vó, vamos comer comida coreana?
É aqueles negócio de peixe crú?
Tem até polvo crú...
Polvo?!?! É aquele bicho cheio de braço assim?
Esse mesmo...
Creeeeeedo!!!

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