19 de março de 2011

O Terror e os Anos 70



Ah, os anos 70!

Talvez tenham sido os Hell's Angels. O sonho acabou e a ressaca de LSD e Vodca veio a galope. Tudo virou excesso: na música, moda e comportamentos. Na política anos de chumbo pelo mundo e uma guerras geladas. No cinema a garganta era profunda e o sangue passou a correr efetivamente nas telas (mesmo que fosse sangue cenográfico).
Os monstros da Hammer não metem mais medo em ninguém. É hora de assustar platéias e os realizadores dessa década irão descer todos os degraus possíveis e estabelecer um patamar de assombro que nunca iria ser equiparado no cinema. filhos da crueza de George Romero e de maníacos como Charles Manson, Robert Christian Hansen e Zodíaco. Além do som do Black Sabbath e Goblin.
Diferente da geração expressionista do cinema (em especial a alemã) a temática da geração dos anos 70 buscou o horrível em eventos mais mundanos e cotidianos (mesmo que escondidos em pequenas notas de jornal) do que temas do pós-vida. Esses realizadores enxergaram demônios vivendo entre nós. Suas câmeras miraram terrores de regiões que pouco haviam sido focadas antes (e vamos ser sinceros, os subúrbios bizarros dos EUA metem muito mais medo que castelos medievais em algum país europeu).
Essa década permitiu, através dos resultados da contracultura, a quebra de todas as barreiras nas várias faces do fazer cinematográfico. O zeitgeist da produção de terror do período abraçou e casou com concepções niilistas na confecção dos roteiros (do jeito que eu gosto, até porque não há gênero que casa melhor com o niilismo do que o terror). Em cenários realmente sujos e com cara de cenas de crime reais. O cinema apavorou os Eua com a idéia de que Ed Gein é muito mais assustador e sanguinário que qualquer vietcong.
Ah, os anos 70! Quando estávamos bem longe do politicamente correto e da patrulha de chatos e moralistas. A morte nos filmes de terror nunca foi tão democrática, recaia em quem tivesse que recair: animais, crianças, adolescentes, portadores de necessidades especiais, pessoas com qualquer gradação de melanina na pele e qualquer gênero e transgênero. E por ser tão democrática cumpriu tão bem sua função e horrorizou a todo que se atreveu a assistir essas películas.

O Ritual dos Sádicos (O Despertar da Besta) - Aplausos de pé para o senhor José Mojica Marins. Que filme! Cheio de ousadias e coragens. Que linguagem visual arrebatadora e arrepiante. O filme mais realista do Zé do Caixão o enredo é bem terreno, mas evoca imagens tão primitivas, subconscientes, cruéis, bizarras. Derruba qualquer preconceito contra a obra desse grande artista. Só por aparecer o Adoniran Barbosa já merecia ser visto. É pela metalinguagem, é por dar uma rasteira em cinéfilos metidos a besta (despertem), é pela coragem de enfrentar Tradição Família e Pátria.

O Massacre da Serra Elétrica - É o mal estar dos tempos. As descrições dos crimes e desgraças cotidianas que escorrem pelo rádio são muito mais chocantes que qualquer filme de terror. Tobe Hooper serra a opinião pública dos EUA ao mostrar que o terror está incrustado nos grotões da América (me lembrou o Inverno da Alma, vai ver é a serra elétrica e os red necks bizarros) e não do outro lado do mundo em guerras perdidas. Um filme cruel, sádico e crú. Isso, crú. Um filme ícone. Influenciou e influencia até agora. Dá muita vontade de virar vegetariano depois da sessão.

Suspiria - Esse está na minha lista pessoal como um dos meus três filmes preferidos de terror. Acho que não houve filme que me colocou de forma tão crível dentro de um pesadelo. Aquela sensação de estar vivendo algo horripilante e a única forma de escapar é quando despertar. Esse filme tem cenas macabras e antológicas. Dario Argento é o pai do gore e da crueldade extrema com personagens no cinema, culpem ele! Gosto demais da presença de Jessica Harper na tela. Uma obra barroca do terror. Cores vibrantes e cenários saídos de uma alucinação. Suspiria é um conto de fadas muito macabro.

Inverno de Sangue em Veneza - Já estamos tão cauterizados por imagens de podridão que muitos dirão que não se trata de um filme de horror. Bem, se ao final do filme você não estiver aterrorizado é melhor buscar alguma analista. A morte de um filho amado destrói a alma dos pais John e Laura Baxter que resolvem se perder em uma cidade estranha e secular. A todo momento parece que algo muito ruim vai acontecer. Nada acontece. Estranhezas cruzam o caminho do casal. Eles se amam. Nada acontece. Mais estranhezas. Se perdem pela cidade. Nada acontece e de repente...que finalzaço! Que velhinha bizarra. A morte a espreita por todo o filme só esperando a hora de agarrar o espectador pelo pescoço. Que final!

O Homem de Palha - Cult. Só isso. Tem algo de errado na ilha. Desde a primeira cena nós já pressentimos. Mas a curiosidade de Howie o levará a ruina. É tudo muito estranho e Howie precisa chegar a uma resposta, mesmo que não possa contá-la a ninguém.

O Exorcista - Esse filme não perde a força. William Friedkin fez três obras essenciais (Operação França, Parceiros da Noite e O Exorcista) que o habilitam para trazer às telas a presença pungente do Mal. Esse filme é tão bom que o padre Karras não tem igual no cinema atual: fuma e bebe e frequenta lugares meio pagãos. Um ótimo personagem e perfeito para fazer frente ao tinhoso. O maligno não está só na casa ou no corpo de Regan, está na película do filme (aqueles frames com a cara de um demônio são arrepiantes...aliás Friedkin adora inserir frames subliminares em seus filmes, repare). Acho que as cenas que mais me afligem são as dos exames que Regan é submetida e a famosa cena do crucifixo...Credo.

Halloween, A noite do Terror - Muitos querem dizer que não, mas que a cena de abertura é absurdamente legal, isso é. E vai dizer que a trilha sonora não dá aquele arrepio na nuca? Não vamos falar de continuações, acho que esse filme desperta tanta admiração por ter elementos tão bem encaixados num roteiro enxuto. Nunca se vê o rosto do algoz com clareza e ele está sempre a espreita. Sem saber (ou sabendo) Carpenter criou uma fórmula brilhante de terror e que foi copiado a exaustão na década seguinte. E é um filme claro e de imagens límpidas. Você enxerga tudo, o que deixa tudo mais apavorante. Ele está lá. Lá! Eu vi! Naquele canto. Tem alguém nos observando. Os subúrbios norte americanos sofreram tanto nas mãos de maníacos...


Tarantino já fez seu terror setentista com A Prova de Morte. Mas queremos mais.

Nossa, que horroooooor!!! Que cara Diabólica. Quem é esse homem aqui?
É o Kadafi Vó.
E que que ele é?
É um ditador assassino Vó.
Credo. Deus há de pedir contas dele, viu!?
Amém, Vó.

2 comentários: