28 de março de 2011

Filmes e Gibis e vice-versa Parte III


A arte cinematográfica sempre foi exibidinha. Quando surgiu era hábito de pobres e maltrapilhos que assistiam isso que se chamava de filme em circos e freakshows. Foi tomando o mundo de assalto e virou a arte mais admirada e influente de nossos tempos. Mas desde sua primeira exibição, quando a platéia saiu correndo apavorada com o trem que corria em sua direção, essa arte sempre teve a pretensão de mostrar o mundo ou um mundo melhorado.  
Os Quadrinhos sempre foram periféricos. Tiveram um boom de consumo nos anos 30 e 40, mas sempre foram restritos e associados como arte falha e menor.
O Cinema precisava de certas vitaminas para se desenvolver. Tomou idéias e adaptou obras de outros fazeres artísticos (principalmente da literatura e algumas coisas do teatro) e foi ganhando corpo e desenvolvendo-se com idéias próprias do meio. 
Os quadrinhos também figuraram de forma tímida e pouco cuidada nas telonas nesses anos de começo do cinema. Nos 60 anos que seguiram de sua popularização surgiram gênios e revolucionários da nona arte bem como um sem número de obras primas.
Uma dessas artes é pura imagem e som. A outra retorna a origem das escritas em que o desenho e a letra não eram em absoluto dissociados para narrar. O fato de que um dia iriam se imbricar foi bem natural. E essa fusão é bem salutar a todos. Claro, ficam um ou outro corpo pelo caminho, fatalidades. E a lição que fica é que uma arte instigue a outra e que instigue seus admiradores para que migrem de tempos em tempos por essas e todas as outras formas de representação.
Vá ler um bom gibi e vá ao cinema. Vá!

Rocketeer - Tanto o gibi quanto o filme são puro descompromisso e ação deliciosamente descabeçada. Só me incomodou a falta completa de sensualidade na personagem Betty interpretada por Jennifer Connelly e da patriotada chata e escrota do terceiro ato. De resto é uma sessão da tarde deliciosa. Tudo é homenagem: aos heróis espaciais de matinês, pin-ups, heróis da era de ouro e pulps, Errol Flynn , a era dourada de Hollywood. O filme veio numa pequena onda de adaptações começadas por Tim Burton em seu Batman e por Warren Beatty em Dick Tracy que não tinham qualquer compromisso com o realismo atual das adaptação de quadrinhos para a tela grande. Um bom filme.  

Constantine - Sim, ele não é loiro, não é inglês e usa aquela arma crucifixo ridícula, mas que filme divertido. Visualmente bem bonito e filmado com dinamismo. A unica coisa que me incomodou foi restringir a atuação mística de Constantine a cosmogonia cristã e esquecendo outras vertentes da metafísica. Constantine é, no fim das contas, um detetive de noir bem filha da mãe e canastra, Keanu Reeves vai na veia nesse sentido e dá bem certo como o personagem. Gostei do uso de Los Angeles como cenário escolhido, é uma cidade bem plural em etnias e bem fantasmagórica. Ótimo filme. 

300 - Eu adoro as abundâncias de imagens e a secura de conteúdos no cinema de Zack Snyder. As imagens compensam. Sempre tem reclamões. Quem leu a versão de Frank Miller para um dos grandes embates da História xiou com inconformidades históricas (bem, nunca acusaram o senhor Miller de realismo, melhor para ele e para seus leitores). Cinema não é máquina do tempo e não tem obrigações para além do estilo. Assim o exercício de estilo e narrativa de Miller encantou e levou muita gente a buscar outras narrativas para os "fatos". Muita gente xiou mais ainda com a adaptação de Zack Snyder, mas a absoluta maioria se divertiu aos montes e gritou SPARTA ao final da sessão. Para mim, como fã da série em quadrinhos de longa data, achei uma das melhores adaptações de todas. A transcrição quase quadro a quadro dando movimentação por vezes frenética e muitas vezes morosa para que se aprecie o quadro em plenitude funciona e muito. Até a palheta de cores de Lynn Varley foi respeitada. Os dois trabalhos muito iconoclastas são perfeitos para expor esse conto de macheza e de códigos de conduta irrecuperáveis (Graças a Deus!) em nossa atualidade.

PS: Mas nada do que eu diga merece atenção em comparação com a analise crítica e semiótica do lendário Alborghetti. Ouçam com atenção.




O Sombra - Um filme realmente decepcionante. Um grande personagem desperdiçado numa trama rala com um antagonista sem a menor relevância e personagens coadjuvantes sem qualquer atrativo para quem assiste. Sim a caracterização do Sombra é ótima. É outro filme que veio na onda do Batman de Tim Burton, só que o grande referencial mal usado por Russel Mulcahy na composição desse filme é o Dick Tracy de Warren Beaty. Alias, a Nova Iorque do Sombra se parece demais com a Gotham City de Batman. É óbvio que Alec Baldwin "funciona" muito mais em comédias. O Sombram surgiu nas pulps e foi parar nas HQs antes de ir para os cinemas. Esse personagem e sua mitologia são fruto da ficção do começo do século XX que ainda via áreas de colônias e ex-colônias com encantamento e temor ao mesmo tempo via a vida nas grande e modernas cidades com violências inimagináveis gritando nos noticiários diários.

Marcas da Violência - Um do filmes mais interessantes da última década. Um David Cronenberg contido em bizarrices, mas largo e hábil em fotografar violência extrema. Não deixa de ser uma história de herói. Não o herói que esperamos mas um herói com camadas e um passado para carregar. Um fingidor; um arrependido ou um predador esperando para dar o bote? É numa daquelas cidadezinhas norte americanas só que o roteiro funcionaria em qualquer cenário: na São Paulo de hoje, em Tóquio do século XIX ou num deserto do velho oeste. Temos aqui uma das melhores cenas de sexo do cinema. Um filme sobre fantasias e como não é possível mantê-las indefinidamente (o mundo real cobra): fantasia de Cheerleader, de bom cidadão, bom pai, de um casamento perfeito, de cidade pacífica e de tranquilidade para dormir. Assista já.

Kick-Ass, Quebrando Tudo - Subversivo, ahm!? Violento Colorido Pop. Que audácia colocar uma menininha falando "You Cunt". Claro que a Hit Girl, principalmente, e o Big Daddy são as melhores coisas do filme. Mas da para falar da celebrização imediatista e como ela consome as pessoas em tempos de internet, bem como o culto a celebridades que são só imagem e coragem de figurar de maneira vexatória e muitas vezes suicida no youtube (vide o Kick Ass se tornando conhecido após ser filmado levando uma surra). Um herói precisa ser moído e penitenciado em seu caminho de ascensões e quedas. 


Tarantino cadê o seu Sombra? Aguardaremos sentados...

Ô, Vó!
Ela tá dormindo. Deixa ela quieta menino!
Foi mal Vô, num ví. Té mais...

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