25 de janeiro de 2013

Os Melhores de 2012

Die Götterdämmerung (Twilight of the Gods), opera, WWV 86d: Siegfried's Death and Funeral March by Wagner on Grooveshark
Quais filmes, que por qualquer motivo, perduraram em sua mente durante os últimos 12 meses? Quais te divertiram, assustaram, emocionaram, te fizeram questionar concepções antigas; quais nunca iram sumir de sua memória?
Desejo profundamente que o ano que passou tenha deixado um rastro de boas impressões cinematográficas em sua consciência e que não se tenha deixado levar pelo discurso preguiçoso de que tudo se repete e não tem mais importância. Não se engane, os obsoletos raramente sabem de sua condição e só sabem reafirmar discursos passados.
Sem mais delongas, vamos a minha seleção de filmes de 2012.

A Separação - Do Irã vem o filme mais tenso do ano. Sem heróis ou vilões um drama corriqueiro de uma família mediana se transforma num caldeirão de possibilidades nefastas dada a sociedade e mentalidade em que se gesta a trama. Não aceito os que acusam o diretor de manipular por esconder parte da estória de uma personagem chave, mas sem essa  omissão não há tensão. O triste é pensar na situação das famílias em sociedades intolerantes (seja de Teerã ao ricões do sul estadunidense) tende a ficar cada vez mais aterradora e sem um minuto de alívio. Fique com o trailer.

007 Operação Skyfall - Para mim, facilmente o melhor blockbuster do ano. James Bond sempre foi propaganda imperialista-machista embalada em música pop e mise-en-scene kitsch e, apesar do que a velharada diga a piscadela dada ao público não salvava a série de seus deméritos. A pretensão sombria e viril impressa na última trilogia Bond veio bem a calhar e engrandeceu o personagem no imaginário coletivo (pelo menos no imaginário de quem já tinha se enchido das forçadas da série antiga). E o que o diretor Sam Mendes faz nesse filme é ainda mais pretensioso e acertado. A melhor tradução do monomito de Campell que figurou as telonas num ano cheio de super heróis (mas o 007 está no mesmo patamar desses heróis não é mesmo). Apesar de Mendes jogar água no chopp de quem acreditava na teoria dos múltiplos bonds (eu sou um deles), a película delimitou origem e catapultou aos céus as possibilidades narrativas do personagem. Além de tudo isso, temos o melhor vilão da série que representa tudo que James Bond não é (feio, hi-tech, gay e covarde). Fique com o trailer.

Os Infratores - O homem solitário armado e o dinheiro (entenda-se business) são as molas propulsoras da narrativa mítica-histórica estadunidense (de sua fundação à contemporaneidade). Não a toa John Hillcoat (um de meus diretores preferidos) intercruza o filmes de gangster com o faroeste. Se engana quem achar que o condado de Franklin é um cenário mais abrasivo que em outros filmes do diretor (uma prisão de segurança máxima, o outback, o pós apocalipse e etc.). Aqui, também, somente os homens dispostos a perder e tirar sangue tem o direito de viver. A brutalidade extrema convive com tranquilidade dos cultos protestantes. Aliás, a cena do lava pés na igreja é deslumbrante. sem dúvida é o filme mais palatável de Hillcoat, porém ainda é sem par ao filmar a feiura e crueza de atos violentíssimos. Fique com o trailer.

A Bruxa da Guerra - Num canto pobre do mundo esquecido por Deus e principalmente pelos homens temos um inferno que faria os nove círculos de Dante parecerem a Disneylândia. Sem o talento de um Elem Klimov para construir sequencias avassaladoras em seu filme Vá e Veja, Kim Nguyen tem talento para filmar mazelas.  Pobreza extrema, aks-47 e balas em abundância, estupro de crianças, drogas, mutilações  fantasmas assustadores, solidão e tudo desembocando na mais pálida e dolorida desesperança. A estória da menina Komona é a pior que se poderia ouvir: logo após uma milícia tomar seu vilarejo ela tem de escolher entre matar seus pais a tiros ou ver um guerrilheiro estraçalhá-los a golpes de machete. Logo ela irá aprender que no lugar de seus pais ela tem seu rifle e os fantasma que a protegem e assombram. Qualquer alívio que vier em seu caminho será subjugado por dores maiores. O horror, o horror é continuo. E pensar que nenhuma ficção chegue nem perto dos horrores da vida real; alguém se lembra do Kony. Fique com o trailer.

2 Coelhos - O filme brasileiro escolhido veio por motivos justos: o filme se passa em SP; tem político se ferrando; o simples motivo de ser algo completamente diverso do que se faz no cenário nacional já vale o voto. É um filme divertidíssimo  apesar de confuso pelas jump cuts em excesso. Eu quero ver sempre qualquer espasmo de criatividade embrulhado em referências pop e se for cinema de gênero no Brasil (uma raridade), eu tô dentro. E na terra em que todos levam vantagem que tal se dar bem em cima de quem sempre se da bem? Demorou, né!? Edgar está completamente enrolado, então quando uma chance de mudar tudo aparecer (mesmo que ele tenha de pagar um preço), ele agarra com todas as forças. Quase escolhi a Febre do Rato (e não só pela nudez celestial de Nanda Costa), mas eu queria ter visto mais filmes nacionais esse ano...enfim... Assista esse ótimo filme aqui.

Minhas menções honrosas vão para: Holy Motors, Os Vingadores, Millennium - Os Homens que não Amavam as Mulheres, A Febre do Rato e A Invenção de Hugo Cabret.

Agora, as três melhores novidades das antigas que tive o prazer de descobrir esse ano.

Betty Blue - A loucura no amor e a loucura em se amar. Da mesma forma inexplicável e irremediável que Zorg se apaixona pela doidinha Betty, a película de Jean-Jacques Beineix roubou meu coração com todas suas belezas e defeitos. Houve uma geração de cineastas franceses da década de 80, da qual Beineix fez parte, que apesar de inconsistências tinham uma construção imagética linda. Certos momentos e quadros desse filme irão de acompanhar para sempre e se tornaram referência de romance. Zorg e Betty se amam muito e passam pelo que os grandes amores passam: de momentos engraçados, juras de amor, o vício no corpo do amado, terríveis brigas e pedidos de perdão. O mundo é muito pequeno para um casal assim. A gracinha Béatrice Dalle transborda sensualidade e inocência em sua nudez quase renascentista de ancas e seios naturais. Assista já esse filme aqui e aqui (em francês) e lembre que é NSFW.

Boogie Nights, Prazer Sem Limites - É no mínimo genial um filme que trata, principalmente, sobre a perda da inocência ter como ambientação a indústria porno. Mais  que isso, trata da brutal mudança comportamental que rolou dos loucos e libertários anos 70 para os restritivos e melancólicos anos 80. Do glam rock a AIDS; das salas de cinema ao VHS; dos Hell's Angels a Gordon Gekko. Eddie Adams (futuro Dirk Diggler) é um adolescente sem perspectiva, mas com um dom. O conflito com sua mãe irascível, um dos conflitos mais melancólicos da fita, o impulsiona a cair na toca do coelho e o mundo de carros, festa e sexo é um sonho ao alcance das mãos. A ambientação e principalmente o elenco de coadjuvantes com seus dramas e conflitos próprios fazem do trabalho de Paul Thomas Anderson algo primoroso. Fique com o trailer aqui

A Última Sessão de Cinema - Eta, vida besta, meu Deus! Num preto-e-branco que não remete a nostalgia e sim a decadência, Peter Bogdanovich gestou um dos melhores filmes da melhor geração de cineastas na História do cinema estadunidense. A melancolia enche a tela quando acompanhamos as desventuras Sonny e Duane numa cidadezinha perdida no Texas. Esses baby-boomers estão entre um passado glorioso (encarnado na figura Sam the Lion)  não vivido que se esvai na poeira, e um futuro de liberdade comportamental que ainda é uma novidade desajeitada. A vida banal e sufocante, os relacionamentos truncados pelos silêncios, os adultos mais desesperançados que os jovens, as ruas vazias, a guerra que se aproxima, a explosão atômica que seria o rock'n'roll e o cineminha caindo aos pedaços. O fim de uma geração e a inevitabilidade da mudança. Imperdível. Veja o trailer aqui.



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