7 de outubro de 2011

O Ás de Espadas



Há algo de muito nobre num jogo de cartas. Eu admiro muito mais os jogadores de cartas do que os jogadores de xadrez. Eu admiro quem lida e entende tão bem a fortuna. Gosto de pensar que há pessoas totalmente cientes da importância do plano e do cálculo que caí por terra ao menor sopro do acaso. Gosto da resignação de quem compreende que pode até tentar controlar as cartas que recebe no jogo, mas outros estão jogando, as chances de ganhar e perder são equivalentes a todos da mesa.
A coragem de apostar. A esperança de ganhar. A fleuma para blefar. Todo mundo arrisca, aposta, ganha e perde. Não estou falando da mesa de apostas, estou falando disso ai que chamo vida. Claro, tem gente que nasce com as melhores cartas nas mãos, e mesmo que você não tenha um full house hora ou outra você vai ter de arriscar.
Os filmes com essa temática me agradam demais e abaixo vão alguns bons (e outros nem tanto) exemplos. Lamento que não tenha (que eu saiba) filmes brazucas sobre o tema. Fala ai, um filmão sobre truco seria bem legal.
A sorte está lançada.

007, Casino Royale - Tá, beleza, os saudosistas reclamam, mas que a nova abordagem de 007 ficou bem bacana, ficou (santo Bourne). Bond não sabe jogar, ele é um blefe, não está no nível de Le Chiffre ou de outros demônios. Vesper Lynd vai ensinar o jogo a Bond. Ela vai provocá-lo, machucá-lo e calejá-lo. Vesper (ah, os olhos quadrados de Eva Green!!!) tem sempre um plano, ela sabe usar a sedução, Bond ainda é muito impulsivo e sem charme. As inverosimilhanças estão lá, em menor numero que todos os outros filmes anteriores, porém aqui temos, finalmente, o desenvolvimento do personagem para além das características de seus interpretes. As cenas do jogo de pôquer são ótimas. Um ótimo filme de ação. 

Maverick - Uma sessão da tarde muito agradável, nada nada revolucionário. Pode-se até dizer que seja um filme deslocado no tempo e que "funcionaria" melhor nos anos 40, quem sabe? Talvez seja um documento de uma época em que Mel Gibson mandava em Hollywood. É a velha história do ladrão que rouba ladrão, é no velho oeste e com belo cenários, que é sempre um mérito.

Cartas na Mesa - Para mim um cult absoluto, pena que poucas pessoas conheçam. Só pelo elenco (destaque para Malkovich e o sempre marcante John Turturro) vale assistir. E, claro, para ver a beleza de Gretchen Mol. Não há nada de maior apelo a um homem que a fidelidade de uma amizade verdadeira oferecida por outro homem. É algo tão atraente quanto uma lâmpada para uma mariposa. Mike está em dívida pelo sacrifício que Worm sofreu em seu lugar. Mike sabe o gosto amargo da perda total e nada o levaria a arriscar perder tudo de novo. Nada até Worm chegar. Mike é um apostador metódico e domina a arte. O amor de Jo o domesticou, mas amor não é tudo, certo!? Ele deve voltar a ser o que realmente é, e para tanto terá de vencer o gigante do submundo novaiorquino do carteado, Teddy KGB o espera. A técnica de filmagem limpa e clássica de John Dahl é muito atraente, sua Nova York é underground e um tanto suja, porém linda. Imperdível.

Quebrando a Banca - Poderia ser incrível, mas não rolou. A velha formula da jornada do herói só dá certo  com ousadia, não é o caso desse filme, sem surpresas, depois de algumas provas o herói vai vencer. Pena, Jim Sturgess é um ator muito interessante e pronto a explodir. 

O Crupiê, a Vida em Jogo - Outro cult inegável. Jack é um escritor...ou um personagem de romance? Quem está escrevendo a estória de quem? Jack é um cínico e um honesto, impossível não simpatizar com ele, claro que a distância. Jack não joga, pelo menos é o que ele acha, mesmo assim é um viciado: não na emoção da incerteza de ganhar ou perder, mas na certeza de ver a esperança se esvaindo da face de um perdedor. Belo vício. A Londres filmada por Mike Hodges é sufocante e indoor. Clive Owen tem sempre, no mínimo, uma presença marcante.

A Mesa do Diabo - Os cenários são quase grandiosos e o foco do diretor Norman Jewison exacerba a lateralidade dando fluidez na narrativa. O mundo pertence a Eric Stoner, o Cincinnati Kid, uma estrela em meteórica ascenção no mundo das apostas de New Orleans. Falta destruir um último obstáculo. Falta destruir velhas lendas do carteado. Falta humilhar Lancey Howard. Outro embate do filme se dá entre os atores Steve McQueen e Edward Robinson: uma estrela em ascensão e uma lenda viva e meio esquecida do cinema. Cincinnati ainda é Kid, ele tem que aprender a cair, a perder. Sua inconsequência é perigosa, mesmo alguém tão hábil pode por tudo a perder ao cortar as cartas. O que Cincinnati aguentaria perder: a namorada (a belíssima Tuesday Weld), o dinheiro? O pior seria perder a reputação. Você arrisca? 

Tarantino só aposta valores altos e há suítes com seu nome em Las Vegas.

Minha Vó odeia jogatina e acha que o vício do jogo é a influência do tinhoso na vida dos homens.

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