19 de maio de 2011

Tiros no Deserto Parte I



"...pois o destino de cada homem é tão grande quanto o mundo que ele habita e contém dentro de si igualmente todas as oposições. Esses desertos no qual tantos foram subjugados é vasto e exige grandeza de coração mas também é no fim das contas vazio. É impiedoso, é estéril. Sua verdadeira natureza é a pedra".
Cormac McCarthy, Meridiano de Sangue.

Poucas coisa são mais preferidas de um historiador que a desconstrução de um mito. A desconstrução de mitos do cinema estadunidense soa como música a um cinéfilo historiador. Agora a desconstrução de mitos históricos expostos há anos no cinema e revistos de tempos em tempos por cineastas capazes de instigar são simplesmente um deleite.
Que o cinema feito na terra do Tio Sam é o de maior prisma temático, de maior qualidade de produção e o terreno das maiores experimentações da sétima arte (não confundir com a produção estritamente hollywoodiana) é notório e sacramentado (pelo menos desde que os cineastas franceses dos anos 50 e 60 perceberam e espalharam a informação). Na minha opinião, as duas maiores contribuições à sétima arte feita pelos estadunidenses foi o Noir e o Faroeste. Desse primeiro gênero trataremos futuramente, vamos nos debruçar sob o segundo. Mas vamos olhar uma fase de revisitação do gênero em momentos que este começava a cair em desuso e depois, mesmo praticamente extinto, insistia em ressurgir nas mãos de alguns realizadores aqui e ali.
Toda revisão na arte tem por objetivo ser analítica e para alcançar com força máxima seu objetivo subverte e acentua características do objeto escolhido num passado do fazer artístico salpicando com toques e maneirismos do artista contemporâneo.
O cinema de velho oeste ou faroeste remonta às primeiríssimas produções da sétima arte estadunidense. Foi extremamente popular em todos os cantos do mundo até os anos 50 e na década seguinte um grupo de europeus deram sua visão para corrida ao Oeste e dai para frente de tempos em tempos surge uma nova leitura da mitologia do Oeste.

To be continued...

Vamos a primeira seleção.

Django - Corbucci, no longínquo 1966, promoveu um banho de sangue e brindou o público com um dos filmes de imagens e enredo mais violentos do gênero. Tudo é assombrosamente crú e exala perversidade. Do andarilho misterioso arrastando um caixão a contagem de pilhas e pilhas de corpos até a violência infligida e perpetrada pelas mulheres à sujeira, os campos enlameados e esvaziados, tudo isso faz parecer que vemos um filme pós-apocalíptico. A empate final no cemitério é uma cena antológica (pelo menos para mim).

Dead Man - Jim Jarmusch quer nos dizer o que é a "América", ou melhor, dizer sobre uma América que ainda não se pensa "América". Não tem como não pensar na Divina Comédia, logo no começo quando William Blake ruma de trem em direção ao Oeste parece que entramos no barco do Caronte. Cenários de genocídios e matanças, não há lugar para inocência Blake será embrutecido e vai andar de mãos dadas com a morte. O p&b juntamente com a guitarra distorcida acentuam as visões dantescas focalizadas por Jarmusch. Há morte em cada fotograma do filme: peles de animais, ossos, tiros, sangue, corte, canibalismo...Imperdível.

Era Uma Vez No Oeste - A cena de abertura, com seus 15 minutos, é uma das minhas sequ~encias preferidas no cinema. Sergio Leone tem uma capacidade sobrenatural de criar imagens duradouras. Assim como as melodias de Ennio Morricone que passam a morar em seus ouvidos depois de ouví-las. A História do Cinema até então se encontra nesse filme de Eisenstein a John Ford, de Hitchcock a Visconti. O filme mais barroco (atente a todos os cenários), surrealista e operístico do gênero. Um verdadeiro épico. A água, a toalha xadrez, o capitalismo vindo de trem, o fim de uma era, Claudia Cardinale no banho e o Cinema de Sergio Leone tem sempre algo haver com a morte. O único filme de Leone em que o eixo dos personagens gira em torno do feminino. O pessimismo contra a profunda admiração e nostalgia de um mundo e um fazer cinematográfico que se foram. Uma experiência contemplativa de plano profundo e belissímos. A violencia é contida, rápida e presente. Poucos filmes deveriam ser considerados obras primas, esse é um que merece.

Pat Garrett e Billy the Kid - O Western mais melancólico e apocalíptico de todos os tempos. Após a sessão ficamos com a sensação de que o mundo já acabou (ou pelo menos aquele mundo). Pat Garrett entendeu que não há mais espaço para velhos fazeres ele que entrar para o time que está ganhado. Finalmente a Lei tem força no oeste e no caminho há Billy the Kid. amigo ou não Garrett quer ficar sossegado em sua cadeira de balanço e não fugindo de muquifo para muquifo nem que para isso seu amigo receba uma bala na cabeça. O último que apague a luz.

Caçada Sádica - Um tratado sobre a masculinidade ferida de um sádico. É isso que Brandt Ruger gosta: ver o sofrimento e a dor nos olhos de suas vítimas e maior prazer é prolongar isso ao máximo. Homens corrompidos em belos vagões decorados e homens virtuosos no meio de bandos de procurados pela lei. Bem violento. Melissa Ruger teve a chance de uma nova vida no dia em que foi sequestrada pelo bando de Frank Calder, mas seu dono/marido é diabolicamente possessivo e o que não pode possuir ele fará de tudo para destruir, pobre de quem estiver na frente. Um filme que não deixa de versar sobre lealdade dos que seguem seu líder numa caçada ou fuga sem perspectiva de volta.

A Proposta - Roteiro de Nick Cave, três pontos positivos. As imagens que estampam a tela por mais cheia de moscas, sujas e poeirentas que sejam são lindamente fotografadas. Qual é a sensação de se viver no fim do mundo? A resposta vem nessa película, pois o bang-bang também rolou na Austrália. Há um clima de passagem do Antigo Testamento, de um Gênesis apócrifo para um novo mundo; um quê de Caim e Abel, Esaú e Jacó, de vagar pelo deserto infinito sem ter terra prometida. O colonialismo cria psicopatas ou só os importa? O bando de Arthur Burns vai atacar sem piedade e violar e destroçar suas vítimas. Aqui, sem exageros, as atuações de todo o elenco são primorosas. Sou muito fã da obra do John Hillcoat. 

Tarantino idolatra os filmes dessa leva. Vamos torcer para que seu filme com o Franco Nero seja destruidor. 

Esse post vai em homenagem ao meu Pai que me legou o maravilhoso hábito de assistir e apreciar um bom Bang-Bang.


5 comentários:

  1. TBM VIA DIRETO Bang-Bang COM MINHA MÃE MADRUGADA A DENTRO!!! SÃO MUITO BONS!!!

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  2. São ótimos. Nós temos que agradecer nossos progenitores por essas heranças benditas. Dê um grande abraço em sua mãe por isso.

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  3. POD DEIXAR! MEU SOGRO Q É UM HOMEM DIGAMOS RUSTIGO TBM GOSTA, QUANDO LEVO UM BANG BANG PARA OLHAR NA CASA DELE, ELE NEM PISCA OLHA TODO O FILME E RI!! ADORA OS TIROTEIS E OS CAVALOS, HEHE!! Ñ VEJO A HORA DO WESTERN DO TARANTINO SAIR!!

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  4. TEU BLOG É SHOW CARA! TBM SOU FÃ DE CARTEIRINHA DO TARANTINO!! CONTINUE PUBLICANDO MATÉRIAS COM CONTEUDO!!! VALEU!!

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  5. Opa, valeu mesmo. Fique ligado que sempre tem mais. E logo logo mais westerns aqui no blog. Abraço!

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