12 de novembro de 2010

Gótico Chic Parte II



Dando prosseguimento a seleção de películas que dão preponderância a estética da sombra. Aqui você encontra o básico da cartilha: celeiros em chamas, castelos isolados em ilhas, florestas com formas retorcidas, a lua maior que o sol, corujas e corvos, maldições, cemitérios, delírios, neblinas, elegantes fios de sangue, praias de rochedo, Diabolus in musica e gente pálida. 
A arte gótico-romântica-sombria é inevitavelmente fascinante pelas suas recusas. Não abraçou com calor o Iluminismo o pensamento cartesiano e a ordem da máquina. Abraçou o caos de dentro do homem e do mundo natural, preferiu o sentimento desbragado ao pensamento racional, certeiro e ordenado. Por isso a angústia acima de qualquer sentimento,  o homem, que se percebeu indivíduo há alguns séculos, se sentiu inescapavelmente sozinho num mundo frio e escuro. Arte para chorar, para se dar conta da melancolia e solidão. Tudo isso contaminou de forma viral todas as artes, afinal, com tantos atrativos charmosos esteticamente e possibilidades infinitas para construção de enredos quem vai recusar vez ou outra filmar a meia luz um homem pálido de passado inexistente? Para mim é e sempre será fascinante.
Um Post em homenagem a Bela Lugosi, Andrew Eldritch, Horace Walpole, Alexandre Herculano, Charles Marturin, Bram Stocker e toda turma que usa casaca preta e cartola.


Assista os filmes e abracem a noite.

Frankenstein de 1910 – Ah cara, pelo amor! O que passava na cabeça doentia desses caras até os anos 30? Nas quatro primeiras décadas de vida do cinema foram criadas as imagens mais sombrias e assustadoras de todas. Num tem criança morta japonesa, psicopata americano ou nazista canibal que dê mais medo que esses caras maquiados de cara retorcida sem pronunciar palavra. Que Frankenstein monstruoso, arrepiante, a tradução do que assombra. Kabuki.

O Homem que Ri – O clássico herói gótico: amaldiçoado, aberrante, hostilizado, confuso e confundível, buscando seu amor que insiste em escapar. Esse filme expressionista é um cinema maiúsculo que é imprescindível para quem gosta da arte. Conrad Veidt fez algo que poucos atores se comprometem a fazer; se investiu de talento e entrega total para se imortalizar. Baseado na obra de Vitor Hugo é um filme imperdível.

Crimes da Rua Morgue de 1932 – Cenários expressionistas deslumbrantes. O filme começa com gargalhadas e sorrisos nos personagens. Os sorrisos amarelam, fecham e a boca torce, instala-se o pesadelo. Essa versão para o livro de Allan Poe tem cenas extremamente cruéis e ousadas para sua época, mas a versão galhofeira de Dupin incomoda. É melhor continuar não sabendo o que se passa atrás das janelas da cidade, você pode acabar encontrando o terror e a tragédia da metrópole. Os monstros se soltaram e não há grades que os prendam ou que nos protejam.

Histórias Extraordinárias – O gótico kitsch. Um elenco de enormes atores e diretores. Três contos de Allan Poe entregues nas mãos de três realizadores. Os dois primeiros me agradam, o ultimo é um porre, mas para quem ama Fellini, quem sabe? Destaque para lindíssima Jane Fonda e para o segundo e mais perturbador conto na direção de Louis Malle com a presença de outro coolzão Alain Delon. Vale como curiosidade.

A Hora do Lobo – Bergman consegue assombrar? Um pouco. Num p&b sempre belo (e deslumbrante quando são mostradas cenas das memórias pecaminosas) imergimos no pesadelo de um casal isolado em seu idílio. Um deles vai quebrar, sempre quebra. O problema não é o Éden, mas quem vai par ao Éden. Lá tem tantos frutos gostosos; sempre quebra. Castelos escuros, assombrados e casamentos gelados. Os fantasmas de Bergman não se divertem.

Nosferatu, o Vampiro da Noite – Klaus Kinski é assombroso, sua atuação deveria ser estudada (com certeza já é). Ele é a morte, a peste, a fome, soberbo. Herzog honrou as calças ao dar sua versão para um clássico absoluto da cinematografia de seu país. Um filme que reproduz em mim a sensação exata de estar sozinho numa casa estranha e vazia. O silêncio imenso e a sensação de que lhe enxergam e que podem atacar a qualquer momento. E Drácula ataca silencioso e sem afobação.

Família Addams 1 e 2 – Maravilhoso. Recentemente, reassisti e as lembranças de minha infância foram acrescidas de minha certeza “adulta” de que são ótimos filmes. Engraçados, cruéis, encantadores, melancólicos, uma família como qualquer outra. Raul Julia e Anjelica Huston são hilários, principalmente quando a tragédia se abate sobre seu rebento e ele fica loirinho e rosado. E reparem no cuidado da direção de arte para fazer essa comédia negra ser capaz de rasgar teu coração e te deixar gargalhando no escuro. Para assistir de tempos em tempos.

O Corvo, a Cidade dos Anjos – Todo mundo só lembra do primeiro. Essa continuação muito me agrada. Tem o Iggy Pop louco total. Tem a Mia Kirshner, linda garota gótica. O enredo é mais pesado, violento e sujo.  Nesse mundo inteiramente destruído, drogado e sem segundas chances alguns seres encontram na vingança sua única forma de redenção. A cidade corrompida lembra e muito alguns cenários paulistas atuais.

Tarantino se fantasiou de Byron nesse ultimo Halloween.

Ai que horrorrrrrrr! Dia das Bruxas é do Diabo, você sabe, né!?
Claro que sei Vó. Por isso eu comemoro o Dia do Saci.
Ai que horrorrrrrr!

Nenhum comentário:

Postar um comentário