Vamos celebrar a estupidez humana e a estupidez de todas as nações. Sempre me pergunto qual o pior ato que os seres humanos podem cometer em conjunto, e a única resposta que martela minha consciência é a guerra. Sim, há conflitos inevitáveis e ganhar é sempre a meta, mas isso que inventamos e chamamos de guerra moderna não deixa vencedores. Não é bem assim, esses homens de dez estrelas na lapela e os que habitam palácios nunca perdem, os outros 99% dos homens são destroçados em corpo, alma e cultura. Sim Coronel Kurtz, é o horror, o horror!
E o que a guerra constrói? Países, saltos estratosféricos na ciência, o Museu do Louvre? E o que ela destrói? Geralmente sonhos, famílias, séculos de ação humana são pulverizados num apertar de botão. As perdas da guerra são sempre compartilhadas por muitos e as vitórias pertencem a pouquíssimos donos das armas e arquivos secretos. Me parece claro que na nossa trajetória de civilização a paz é o período de exceção. E esse arrepio incomodo que todos sentimos desde a última guerra mundial que a qualquer momento um cogumelo atômico irá se levantar no horizonte. Cara, o dia em que um cara tomar a decisão errada e apertar o botão vermelho já era...
E o Cinema com isso? Vamos a ele.
O Barco - Não tem como não remeter-se imediatamente a obra de Erich Remarque. Imagino que os pesadelos dos marujos será sempre pontuada por aquele monstruoso barulho do sonar, os meus ficaram. Estar sepultado num caixão de aço a centenas de metros de profundidade tendo de guerrear só com os ouvidos. Muita coragem é o mínimo. E quem diria que um dia torceriamos por soldados do Eixo e sentiriamos por seu massacre. E que final triste, bruto e acaixapante. A alienação desses jovens imberbes não absolve de forma alguma as atrocidades cometidas pela Suástica, mas problematiza o inimigo, esses rapazes são bem parecidos comigo, só suas fardas nos diferem. há algo de terror nesse filme, o terror da presença da morte, da iminência do fim com poucos alívios para respirar (alias, uma das metáforas mais belas quando marujos se apertam na escotilha para sugar um pouco de oxigênio depois de serem sepultados no fundo do estreito de Gibraltar). Um filme longo e que não incomodaria em nada se fosse mais longo ainda. Nos tornamos parte da tripulação. Absolutamente imperdível. Uma amostra grátis aqui.
Vá e Veja - A II Guerra Mundial também pode ser um pesadelo sombrio e surreal. Há filmes que fazem um apanhado de cenas com mais força que qualquer trama intrincada. Elem Klimov faz o uso mais aterrador que já vi e ouvi do som em uma película. O que entra pelos ouvidos te mantém alerta e triste em toda a fita. O que é a cena das bombas caindo na floresta noturna? Me parece que Klimov cruzou a mesma esquina de Jodorowsky e de Sergei Parajanov. Não sei se conseguirei assistir esse filme novamente, não por ser gore ou algo parecido, mas por ser uma experiência visual de uma intensidade que quase te exaure. A guerra (ou, no caso, a "guerrilha" bielorussa) é a melhor tradução do caos e Klimov transpôs essa virulência de forma exata para a película. Vá e veja Já!!! Aqui.
Katyn - O céu nublado do começo da fita anuncia o destino da triste Polônia. As ideologias esmigalhando homens. Bandeiras com suásticas ou com foices e martelos? A cruz e a espada. Qual foi a temperatura da Guerra Fria? Talvez os massacrados da Floresta de Katyn possam responder. E que cena final genial, o espectador é levado ao abate na mesma fila dos soldados poloneses. Amostra grátis aqui.
O Franco Atirador - Uma guerra para os estadunidenses não se orgulharem. Diferente da Secessão e outros conflitos que viraram lendas e até saudosas para alguns, a sequência de lambanças e barbaridades perpretadas na terra de Ho Chi Min é pra ser esquecida...mas antes de esquecê-la Chimino resolveu purgá-la. Obra típica dos anos 70 e dos melhores exemplos do que o cinema US podia nos dar. Comparar a descartabilidade dos soldados com uma disputa de roleta russa é de uma simplicidade genial. Antes das tempestades no deserto e de colocarem robôs no campo de batalha o Tio Sam moia seus jovens em algum país no fim do mundo. Não consigo enxergar nesse filme qualquer intenção ou apreço pelo apuro histórico, a decida ao inferno de Michael e sua turma é principalmente simbólica (a comparação com a obra de Dante não forçada: purgatório e inferno e até o Caronte, tudo está ali). Quer assistir o filme? Clica aqui.
Glória Feita de Sangue - Kubrick da uma lição de como a guerra funciona fora dos campos de batalha. Quantos milhares de litros de sangue de soldados são necessários para tingir as estrelas no peito de um general? Quantos covardes viraram heróis por estarem no lugar certo e quantos heróis morrem sem sentido por estarem no lugar errado? O filme que arrancou lágrimas de Nicolau Sevcenko em sala de aula. Um dia falaremos mais sobre ele. Um filme obrigatório. Amostra grátis aqui.
Terra de Ninguém - A guerra é algo tão absurdo que por breves momentos pode arrancar risos de quem a observa a distância. Para quem guerreia não tem um momento de descanso com um fuzil mirando sua testa. Ciki e Nino caíram num limbo (da mesma forma que a Bósnia e a Sérvia) e, agora, além das armas e binóculos, as lentes das câmeras estão os mirando. A guerra de homens pobres como entretenimento matinal para ingleses verem confortavelmente no sofá. Ciki e Nino se importam muito mais com o conflito que seus generais ou os comissariados da ONU. Eles dariam a vida por um conflito que ninguém saberia explicar como e porque se deu enquanto os verdadeiros criadores da celeuma estão em palanques ou debates na ONU. Quer assistir o filme? Clica ai.
Tarantino tem uma visão muito mais anarco-escrota sobre a guerra.
Minha Vó é capaz de deflagar o próxima guerra mundial se ela descobrir que você não vai mais a igreja semanalmente.
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