9 de maio de 2011

Macho Man Parte I


"A violência é a retórica do nosso tempo".
Ortega & Gasset


Ah, os anos 70! A humanidade estava a anos luz do metrossexualismo e do fofuchismo de coraçãozinho com as mãos. Sim foi uma década de glitter, paletós coloridos e sapatos de plataformas e muita testosterona.. Até os homens e mulheres mais assim, digamos, alegres, eram muito machos (que diga quem presenciou a revolta de Stonewall, movimentações de Harvey Milk e seus parceiros de São Francisco e as pernas peludas das DZI Croquetes). Uma década de belos e polpudos bigodes, barbas cerradas e ternos de gosto duvidoso.
Nessa primeira seleção de filmes da década de 70 vamos sentir o cheiro de cigarro, suor e do punho quebrando dentes da cara de um safado. Muitos desses filmes entraram para os anais da produção cinematográfica ou no mínimo viraram cults, e alguns deles estão na minha galerias pessoal de preferidos.
Ainda não tinha chegado o padrão bombado de academia que Schwarzenegger e Stallone e seus genéricos que iriam dominar as telas nos anos 80 e 90. Estávamos  na época que o homem com H se fazia nas ruas em meio as agruras da vida e não em mesas de cirurgias ou tatames depois de derramados rios de dinheiro. Diferentemente da geração brucutu-muito burro-explode tudo dos anos 80 e 90, na década de 70 os machões do cinema se viravam de maneira safa sem ajuda de tecnologias ou de anos de Jiu-Jitsu, era na raça e na bala. Muitos enxergam essas produções como a afirmação da direita republicana boçal e, algumas vezes, estão certos. Mas na sua totalidade encaram a missão de colocarem os maus de um lado e os bons de outro, mesmo que os bons se usem de expedientes questionáveis para ganhar a guerra. Não podemos esquecer que foi nessa época que surgiu uma nova categoria de seres humanos: os psicopatas. O Vietnã, Wartergate assim como nossos anos de chumbo tiraram qualquer inocência e esperança da frente. O visual  dos anos 70 me encanta pelas cores lavadas. Enfim, teremos mais oportunidades de falar de filmes desse gênero e dessa safra...
Vamos a eles.


O Expresso Blindado da SS Nazista - Então vamos lá: um oficial  nazista gritando "Foda-se a SS"; um afro-negão estadunidense com vestimenta completa da Schutzstaffel SS; mulheres germânicas nuas em uma cachoeira atirando com metralhadoras; capitão do exército estadunidense atirando covardemente em compatriotas; um nazista pacifista; resistência francesa "Bastard"; na trilha aberta pelo ótimo Os Doze Condenados e com um toque de Sam Peckinpah. Não a toa você assiste o filme do começo ao fim com um sorrisinho nos cantos da boca. 

Desejo de Matar - Afirmo com todas as letras "O melhor, e mais descarado, final de filme da História do Cinema". Digo mais, uma das películas representantes das falhas geológicas de nossos sistemas iluministas/iluminados (à sua escolha: judiciário, educacional, monetário, religioso...). O que lhe faltou de reconhecimento da inteligentzia crítica cinematográfica sobrou em reconhecimento de público que se sentiu protegido pelo trabuco (no bom sentido por favor) de Paul Kersey. Um filme gelado como a atuação do ícone Charles Bronson. Mas nada do que eu diga pode dizer mais do que o Hermes e Renato disseram...



Perseguidor Implacável - De longe Dirty Harry é o maior Badassmudafucka da História do Cinema. Que filmão. O que começamos a discutir em 2008 com nosso Tropa de Elite os Americans já o faziam desde 71. O legal X o moral. Os Palácios de Justiça nababescos e toda legião de trabalhadores da justiça e continuamos todos vítimas, há décadas, até o Dirty Harry é vítima. O medo venceu. Todos sabemos o que é certo e errado e ai esta o dilema do filme: Harry mesmo querendo tem as mãos atadas para fazer justiça. São Francisco o sonho hippie, o sonho da igualdade sexual e também o lar de Zodíaco. This is America, baby! Inferninhos, becos escuros apinhados de criminosos prontos para te furar, parques encobrindo todos os tipos de devassidão que a noite insiste em revelar. São tantas tomadas virtuosas e visualmente atraentes que te explodem a mente tanto quanto a Magnun de Harry. Dirty Harry e um maníaco...Harry é o que usa distintivo. Eastwood moveu o meridiano da macheza do velho oeste para os perímetros urbanos. Acertou na mosca. Um filme que merece todas as teses.   

The Warriors, Os Selvagens da Noite - Uma narrativa clássica de Xenofonte encravado no período e nas classes mais violentas de Nova York. Desbancou Star Wars das bilheterias e virou cult. Nova York suja, impiedosa e literalmente miserável (muito próximo do cenário real da ultraviolenta megalópole nos anos 70). Acho que um dos fatores que dão enorme charme ao filme é o uso comedido de armas de fogo. Com uma visualidade que excita os olhos Walter Hill se apropria da linguagem dos quadrinhos ao "virar as páginas" com cortes na narrativa. Alias, um roteiro enxuto e ágil e extremamente efetivo. Talvez a grande  luta do filme seja quando os casais de classe mais abastada entram no metrô e dividem a viagem de uma estação com a gangue, são segundos de tensão e de um duelo mental e de classes tenso e sem solução. Resta bater senão o bicho pega, resta bater senão o bicho come. Um dia falaremos mais sobre esse filme. 

Corrida Contra o Destino - É só o melhor road movie da História do Cinema. E digo mais, um dos melhores filmes já feitos na terra do Tio Sam. O sonho acabou: Os Hells Angels pulverizaram Woodstock, o Vietnã acabou com Maio de 68. O Mundo de Kowalski acabou e só lhe sobrou suas anfetaminas e a velocidade. sem motivos nem objetivos, ele está vivo (por enquanto) e é tudo na Infinita Highway. 

Operação França - Antes do GPS, do reconhecimento de DNA, do celular e wi-fi como o policial macho pegava os bandidão? Esse filme te ensina. Antes das correções de photoshop, do CGI, antes dos atores bonitinhos porém ordinários e das explosões gratuitas e irritantes como se fazia um filmaço policial? Esse filme ensina. Já houve tempo em que os grandes estúdios cuidavam de filmes ousados, contextadores e totalmente em sintonia com os assuntos quentes do momento.  Gene Hackman e Roy Scheider que dupla maravilhosa. Cada tomada tira o fôlego mais que a outra. William Friedkin faz questão de te inserir na cidade e nas perseguições abrindo as laterais, levando os atores e veículos para belos sujos e perigosíssimos cenários novaiorquinos. A história de Operação França remete a uma narrativa clássica e cara aos americans Moby Dick (a cena final do filme nos faz enxergar isso...), afinal, Jimmy Doyle está caçando a todo custo sua baleia branca.


Tarantino passa sua carreira a homenagear os filmes dessa geração.


Segundo minha Avó homem de verdade era no tempo do bonde que davam lugar para as moçinha sentar.

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