Agora os estômagos vão roncar. Vamos falar da mais básica, impiedosa, atraente e individual (porquê, afinal, a fome é somente de quem a sente) arte humana: a arte de alimentar e ser alimentado. Dá para fazer isso sem qualquer arte mas quem resiste a um belo prato bem montado de sua preferência?
Ultimamente comemos tão mal que não damos mais a devida importância ao estômago. O que entra por nossa boca além de garantir vida pode prover sensações inestimáveis e inesquecíveis.
Toda vontade é uma fome disfarçada.
A fome move povos através de oceanos, induz exércitos através de guerras atrozes e também move homens a construir lindos templos em homenagem e exaltação à boa comida. E vamos ser sinceros quem sabe alimentar os outros com beleza merece todas salvas.
Obviamente o cinema não deixaria de abordar o tema. No geral food films dão belos frutos como você vai reparar na seleção abaixo. Mande bala no seu prato preferido e mergulhe numa sessão de cinema. Poucas coisas na vida são mais prazerosas que isso.
Aos filmes...
Obviamente o cinema não deixaria de abordar o tema. No geral food films dão belos frutos como você vai reparar na seleção abaixo. Mande bala no seu prato preferido e mergulhe numa sessão de cinema. Poucas coisas na vida são mais prazerosas que isso.
Aos filmes...
Um Banquete Para o Rei - Às custas de rios de sangue e suor de seu povo a corte de Luis XIV sabia dar um belo dum banquete. Não posso deixar de pensar que a força e violência usada pela turba de esfomeados contra a realeza não se compara com o que sofreram por séculos ( mas a revolta se perdeu no caminho, tudo se perde). Em meio a baldes de dejetos e ratos a corte se banhava (modo de dizer pois ninguém na corte se banhava) em ouro, perucas e jantares nababescos orquestrados por um habilidoso e diplomático Françoise Vatel que se esgueirava em meio ao tiroteio de caprichos e vaidades da nobreza. Roland Jaffé se utiliza do ângulo holandês para acentuar esse clima de absurdo aos olhos do espectador moderno. Um filme Crème Brûlée.
Soul Kitchen - Olha, filme alemão que te arranque um riso é difícil, nesse saboroso trabalho de Fatih Akin se prepare para gargalhar. A mistura dá sabor aos alimentos, e dá sabor ao dia a dia. Uma sociedade só com cabelos amarelos é bem menos atraente que uma sociedade multicolor. Faith Akin percebeu isso faz tempo e dado a situação atual de ascensão galopante da xenofobia européia (algo que não é tão contemporâneo) chega a ser um cinema manifesto ou de militância. Mas diga-se um manifesto colorido, pop, agradável, esperto e muito bem feito. Um filme assim Spaghetti de pupunha com espuma de gengibre.
Meu Jantar com André - Que melhor momento há para tirar o Aristóteles, o Nietzsche, o Button de dentro de você senão num jantar com os amigos? Quem ainda aguenta aquele tio que acha a solução para todas as misérias do Brasil numa conversa dominical pós almoço? Wallace e Andre são personagens Woody Alleanos só que sem o humor agridoce. Membros da burguesia intelectual-artística-judáica-novaiorquina eles carregam todo o peso de ser. Não sei porque esse filme me remete imediatamente ao Complexo de Portnoy de Philip Roth. Eu amo filmes com poucos personagens atuando em espaços reduzidos e esses personagens carregam tanta bagagem. Não parecem personagens com duas horas de história, mas com uma história inteira de vida. São cheios de nuances, opiniões, frustrações, medos e expectativas. A sequência final enche meu coração de nada e meus olhos marejam. A comida é um detalhe ante os gigantes que atribulam a alma humana. Um filme Cabernet Sauvignon.
Estômago - João Miguel e Fabiula Nascimento são dois dos meus atores nacionais preferidos e nesse filme eles dão um show. Aqui temos outra daquelas histórias de embrutecimento. Nonato vai para cidade meio jeca, meio desconfiado e terá de se virar na selva. Ele tomar as rédeas da situação mas antes deve ser lapidado, quebrado e reinventado. De Nonato vai virar Canivete e coitado nunca. pena que pouca gente viu, um filme maravilhoso merecendo uma chance de ser assistido por você. Experimenta porque é bom e faz crescer. Um filme PF bem servidão e gostoso.
Como Água para Chocolate - Não são cem, mas os vinte, trinta anos de solidão que Tita enfrenta são dolorosos. Tita nasceu sob a égide de um México que precisa acabar. O México precisa de uma revolução para tirar das entranhas tradições perniciosas que aprisionaram vidas por décadas. Tita é uma daquelas princesas amaldiçoadas de contos de fadas em busca de um príncipe que quebre o feitiço. Só que o príncipe não tem força para isso, Tita vai ter que se virar sozinha. O realismo fantástico quando bem usado (este é o caso) sempre surpreende e encanta. Eu adoro direções de arte que se esforçam para deixar o filme com cara de sépia. Um filme comida bem caseira.
Tampopo, Os Brutos Também Comem Spaghetti - Outra comédia deliciosa. um filme imperdível. Várias narrativas liguam a história da japonesinha viúva Tampopo em busca do lamem perfeito. As narrativas exploram do erótico ao filme de gangster, do surrealismo pastelão à disciplina xintoista-samurai. A cultura nipônica prescinde de ritual e perfeição de execução e na culinária não seria diferente. Os personagens são tão carismáticos e a situações tão insólitas que não há como não se ver capturado até a última cena. A sequência do prato feito de tartaruga é bem chocante. Para mim um clássico e agradeço àquela que me indicou. Um filme missoshiro e yakissoba.
A Festa de Babette - Um roteiro de desfecho delicado e marcante. Que tal dobrar a severidade calvinista com molhos e temperos? Que iria imaginar que a severidade das paredes nuas, do céu cinza, dos longos vestidos pretos, dos hinos de marcação rígida e de uma educação moral brutal que culminaria em duas guerras mundiais poderia ser pulverizado por uma noite de prazeres gastrônomicos. Todos na vila tem tanto a mostar, anos de sensações, opiniões e vontades escondidas. A cada prato Babette descortina pecados e virtudes de seus convivas. Babette perdeu tudo na guerra e vale a pena arriscar tudo que lhe restou por uma noite fazendo o que sabe melhor: produzir sabores. De tão influente (merecidamente) Festa de Babette virou expressão para uma ótima refeição. Uma Trufa de filme.
Tarantino tem cara que curte um hamburgão e cerveja, né não!?
Para minha Avó comida boa é bacalhau e obrigatóriamente em pratos que caibam quantidade inumanas de comida. E que se repita ad infinitum a pratada.
Vc precisa assistir um filme que as pessoas comem até morrer.Me fugiu o nome agora. rs È uma crítica social. Bem engraçado..srs
ResponderExcluirQual é? É A Comilança? Se você lembrar me indique. Valeu!
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