11 de novembro de 2011

O Medievo Parte I



Não vou ficar aqui gastando meus poderes de historiador. Quem quiser saber de factoides e interpretações balizadas sobre o período que se debruce sobre a historiografia básica, aqui vale como o cinema enxerga esses anos. 
Particularmente, após minha graduação perdi um pouco do interesse que tinha pelo medievo. Na real, perdi a inocência e entendi que essa época foi bem mais, sonolenta, suja e sangrenta que eu pude supor (qualquer semelhança com os dias de hoje não é mera coincidência). 
Metade do planeta vivia oculto sem as imposições e doenças que os homens das cruzes e caravelas iriam trazer futuramente. Aquilo que chamamos de Europa passou mil anos sob a égide da cruz tendo todas as instâncias do existir regulada (relações pessoais, tempo, arte e pensamento), o que não quer dizer que toda sorte de putaria rolasse adoidado. E sem se enganar, Idade das Trevas é o cacete! Taí a arquitetura gótica, a medicina árabe, a música gregoriana, as acadêmias que não me deixam mentir. A tão amada Renascença já estava em gestação há séculos.
Agora vamos a seleção só com filmaços. Aproveita que quase todos estão no youtube. Coragem e clica nos links.

Conquista Sangrenta - O sangue da guerra e a carne dos corpos sendo possuídos. Quase uma fantasia medieval e, portanto, mais apurado em demonstrar a História sem ater-se a "fatos". O crepúsculo de uma era brutal apontando para uma mais brutal cheia de pólvora, ciência e lucro. O enredo clássico da princesa em perigo no castelo subvertido pela direção de Paul Verhoeven que não se furta a mostrar de homossexualismo a coersão e traição política. Jennifer Jason Leigh linda, Rutger Hauer durão como sempre. Uma bela sessão da tarde. Quer uma amostra grátis ? Clica aqui.

Häxan, A Feitiçaria através dos tempos - Não consigo imaginar o impacto que tenha sido assistir isso em 1922...uma hecatombe. Sinceramente nunca vi demônios representados de maneira tão assustadora quanto nessa película. E apesar de tudo isso é um filme cheio de ironia e, porque não, de humor. Acho que o Diabo aprendeu novas maldades com os homens medievais. Sujo, triste, profano, cínico e quase científico (ha!) e, acima de tudo, um filme imperdível. Quer assistir? Clica aqui.

Leão no Inverno - A guerra pelo trono. As batalhas decisivas não se dão com espadas e escudos nos campos enlameados de sangue, elas ocorrem em cortes, com palavras e posturas. Henrique II abandonou a espada, as fronteiras de seu reino nunca estiveram tão largas e seus maiores inimigos tem seu sangue nas veias. Sob artilharia pesada das maquinações de suas mulheres, filhos e de um rei rival, Henrique II tem de gestar sua sucessão. A comparação com Lear não é gratuita, mas é descabido pois Henrique não está sendo enganado, ele sabe jogar. O trono de Henrique, na poderosa interpretação de Peter O'Toole, está assentado em ressentimentos e cobiças. O trono, e tudo o que ele representa, é o único objetivo e não importa quem ficará pelo caminho. Belíssimos cenários, atuações e diálogos afiados. Imperdível. Quer assistir? Clica aqui.

Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo e tinha medo de perguntar - Em específico falo do trecho "Os afrodisíacos funcionam ?". Há várias esquetes hilárias nesse filme, em "Os afrodisíacos..." Woody Allen é o bobo da corte sem graça que morre de tesão pela rainha e para chegar a sua alcova ele fará uso de afrodisíacos. E ai não falta para ninguém, Woody Allen alopra Hamlet, o amor cortês, a sexualidade de sangue azul e, a melhor de todas, com a Renascença. Ah, os anos 70! até as comédias eram incríveis. E vamos ser sinceros, a era medieval foi uma grande piada. 

O Martírio de Joana d'Arc - Se você nunca viu esse filme tu não sabe o que é uma atuação marcante. Esse é um daqueles raros filmes que é um imenso privilégio para o espectador que o viu. Olha, particularmente, tenho problemas com filmes cheios de closes, mas o trabalho de Carl Th. Dreyer é algo imortal, e a atuação de Renée Falconetti é algo sobrenatural. É chover no molhado afirmar esse como um dos grandes filmes da História. Dreyer estava fazendo cinema de forte aspiração metefísica. Suas câmeras elevando Joana aos céus, a forma de enquadrar rostos em vez de corpos para contar a paixão dessa menina. Os cenários austeros e, mesmo em p&b, uma aspiração renascentista. Absolutamente imperdível. Quer assistir ? Clica ai.

A Fonte da Donzela - Há um peso, um pecado sob os ombros de todos os personagens. Me impressiona na Era Medieval, um período de religiosidade absoluta, ser o período mais difícil em se enxergar Deus. Bergman produz um filme pesado e escuro, sua única personagem luminescente sofre e é morta de maneira bárbara. O espaço para remissão e condenação dos pecados está lá, e o desespero de Töre urrando por seu deus também. No embate entre Odin e o recém chegado deus semita quem perde são seus adoradores. Quer assistir? Clica aqui.

Tarantino gosta de se imaginar como um bárbaro visigodo antes de dormir.

-Vó, acho que eu vou fazer uma tatuagem no braço...
- O QUE!?!?!?!
-...Eu disse que ia mudar a linguagem do pedaço...
O QUE!?!?!?!
-...Nada não Vó, nada não...
-...! (ela me vira com um olhar que fulminaria um Templário)

Nenhum comentário:

Postar um comentário