9 de setembro de 2011

Corações Partidos



Vamos começar pelo fim. Ninguém nos prepara para isso. Passamos a vida correndo atrás de um amor, para isso sabemos como proceder, mas nada te prepara para perdê-lo.
Se os franceses chamam o orgasmo de la petite mort deveriam chamar sua antítese, o pé na bunda, la grand mort
Quando Deus solta nossas mãos e caímos no gelo sentimos a maior solidão que podemos experimentar, muitos chamam isso dor de cotovelo. Não é culpa de ninguém. A culpa é dos dois. E é aquela coisa, ninguém mete a colher.
O descompasso entre as partes. Algo que era tão bom já não funciona mais (né Ian Curtis?). O outro não é mais tão importante. Já acabou há tempos mesmo que um não queira admitir. A vontade de ficar juntos vai virando um peso e finalmente um desprazer. O fim é a única saída.
Centenas de milhares de horas de músicas gravadas sobre o tema. Rios de tinta gastos versando sobre corações partidos. Infinitas horas gastas em analistas, bares e nas orelhas de amigos chorando mágoas de amores passados.
Encontrar o amor é um tema muito mais caro ao cinema do que o tema da perda do amor. Compreensível, afinal a fossa em que entramos com o fim de um relacionamento só rivaliza com a morte. Por isso, no geral, os realizadores que focam suas lentes em personagens com coração partido o fazem com compadecimento e compreensão. Vamos machucar (e curar) nossos corações.

Apenas o Fim - As influências de Matheus Souza são tão numerosas quanto as referências disparadas pelo personagem interpretado por Gregório Duviver. Érika Mader sempre fraquinha e bonitinha, mas o Gregório Duviver segura bem a peteca. A participação do Marcelo Adnet é ótima. Adriana e Antônio estão naquela maldita idade em que temos de perder qualquer traço de inocência. É hora de decidir e nem por você nem por ninguém eu me desfaço dos meus planos. Adriana tem de partir, ganhar o mundo, Antônio tem de ficar e garantir o seu. É o fim apenas, se eles ficassem juntos morreriam aos poucos. Vamos partir com eles.

Amorosa Solidão - O cinema argentino é coisa linda. Soledad é uma graça (as meninas diriam uma fofa). Também sua intérprete Inés Efron é uma fofa. E o Darín não larga de ser o pai dela no cinema. Um filme que funciona para quem aprecia roteiro de minucias. Soledad aprende que amor e desamor afetam o corpo: o coração parece querer sair do corpo, o sangue parece correr ao contrario e os pulmões esvaziam. Vai passar Soledad, vai passar.

500 Dias com Ela - Acho que o grande mérito de Marc Webb está na apresentação da dualidade: a simpatia e complacência que sentimos por Tom (o que não é difícil já que seu interprete é o sensacional e futuro coolzão Joseph Gordon-Levitt) com seu coração despedaçado; e a esfinge que se chama Summer: Indecifrável para Tom apesar de completamente clara em suas intenções. Tom queria acreditar em algo que não estava nos olhos azuis e no sorriso blasé de Summer. Iremos folhear uma espécie de diário de Tom para entendermos o que ocorreu nesses 500 dias. Encantamento mútuo, The Smiths, enfado, depressão, superação(?), guinadas dadas pela vida. Um filme cheio de graças. Um filme imperdível.

Namorados Para Sempre - Interessante como o filme fatia a opinião de gêneros. As meninas defendem Cindy, os garotos tomam as dores do iludido Dean. Em cada um deles está a gênese e o apocalipse de seu relacionamento. O que provocava encantamento antes (como a indecisão de Cindy e a impulsividade de Dean), agora pavimenta a dor da desilusão. Claro que eu me dôo por Dean. Ele carrega todo aquele romantismo e esperança e não consegue olhar para os lados e ver a armadilha se armando (mas, afinal, isso é amar, não!?). Um filmes extremamente romântico e muito muito doloroso. Você torce pelo casal, mas não há salvação, está impossível, uma dose cavalar de dor vem pela frente.

Amores Expressos - Primeiro, Kar-Wai está na minha santa trindade cinematográfica. Segundo, Tarantino amou de paixão esse filme. Terceiro, vou falar dele sempre que eu puder. Como um paínel dos corações apaixonados e perdidos de Hong Kong este filme funciona bem numa sessão dupla com Fallen Angels. O cheiro que fica na casa atiçando memórias e melâncolias. As pessoas que cruzam seu caminho e que poderiam ser o amor de sua vida/o maior amor perdido de sua vida. Se Kar-Wai não é o maior poeta do amor no cinema é, ao menos, o que me atinge em cheio.

Cashback - Gosto bastante desse filme. Eu simpatizo demais com personagens insônes (sofro do mesmo mal) e Ben vê sua cama virar um campo de batalha mental após perder a namorada. É hora de se transformar Ben e ver que Suzy não é grande coisa. O tempo vai passar e até a Suzy vai passar. Ben vai voltar a dormir. A galera que trabalha com Ben no supermercado é hilária. E Ben usa camisa tricampeã do Brasil para jogar futebolzinho com a galera. Cheers mate! 

Tarantino sabe muito bem que só se cura de uma dor de cotovelo com muitos litros de sangue espirrados na tela.

Minha Vó nunca teve o coração partido pois isso é um conceito do mundo moderno e degenerado. 


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